domingo, 31 de outubro de 2010

- Alô.
- Oi.
- Adivinhe onde eu tô.
- Não sei.
- Chute.
- Olhando pro meu ap?
- Não.
- Na frente da casa?
- Não.
- Onde?
- Na casa da minha avó, olhando pra casa dos cachorros.
- Porque você tá fazendo isso?
- Não sei.
(...)
- Fale o que foi, vá.
- Eu estava em pé exatamente onde tô agora. As duas casas já foram reformadas depois do que aconteceu, mas eu vejo tudo como se tivesse acontecendo agora. O muro da casa da minha avó era baixinho, um pouco menor que eu na época, então eu conseguia ver tudo. A casa da frente tinha o muro alto, mas o portão era de grade, dava pra ver aqueles monstros lá dentro. Eu tava jogando bola sozinho, na frente da casa da minha avó, e o cachorro apareceu na rua. Ele parou na frente da casa dos cachorros e ficou olhando um tempo. Ele era pequeno, do tamanho de um poodle, mas não lembro a raça. Ele foi em direção ao portão e enfiou a cabeça por entre as grades. Apesar de eu só ter cinco anos na época, já sabia o que ia acontecer. Um dos cachorros mordeu a cabeça dele e o puxou para dentro. O outro veio, e eles começaram a brigar pelo cachorrinho. Eu comecei a chorar e gritar, mas não fiz nada. Fiquei lá, assistindo, enquanto os dois rottweilers o estraçalhavam. De repente o dono da casa apareceu e espantou os cachorros, mas não havia sobrado muito dele pra contar a história. Meu pai veio ver o que estava acontecendo, e logo depois o dono do cachorrinho apareceu. Ele pegou o que havia sobrado, colocou num saco de lixo e levou embora.
(...)
- Aquela foi a primeira vez que eu vi o mal, puro e simples. Sem motivo nenhum, os rottweilers destruiram o cachorrinho. Acho que isso explica meu medo irracional de cachorros.
- Pare de olhar pra essa casa, vá. Saia daí.
- E eu só fiquei lá, assistindo.
- Você tinha cinco anos! O que caralho uma criança de cinco anos podia fazer numa situação dessa?
- Não sei, mas isso não impede ninguém de tentar.
- Pare de fazer isso com você, isso não ajuda em nada.
(...)
- Tenho que ir. Mais tarde te ligo.
- Tá bom, mas tente não pensar nisso.
- Ok. Tchau.
- Tchau.

2 comentários:

  1. A sua fã de maceió ainda espera por novidades! ;) Hehehe
    Beijão Léo, e como sempre seu texto ficou ótimo!!!

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  2. Incrível como vc consegue escrever com tantos detalhes. consigo até imaginar a cena. se tu escrever um livro, compro com certeza!!! Heheh.

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