sexta-feira, 24 de dezembro de 2010


A lousy christmas and a crappy new year, everybody! =]

domingo, 28 de novembro de 2010

Aê gambazada...






...aquele abraço. ;]

NEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEENSEEEEEEEEEEEE!

Quando surge o alviverde Fluminense
No gramado em que a derrota o aguarda
Sabe bem o que vem pela frente
Dois do Fred e os gambás centernada
É o Palmeiras entregando a partida
Pra acabar com a alegria do timão
Conseguiu perder pro Goiás e entregar
Pro Fluminense é obrigação

Defesa que o Conca passa
Toca pro Deco que mata
Torcida que canta e vibra
Hoje é festa no chiqueiro
O Fluminense em primeiro
E os gambás putos da vida
________________________________

Créditos à Carol pela ajuda. =p

OLEEEE OLE OLE OLEEEEEEEEEE, EU CANTO O PALMEIRAS VAI PERDEEEEEEEEER!

domingo, 31 de outubro de 2010

- Alô.
- Oi.
- Adivinhe onde eu tô.
- Não sei.
- Chute.
- Olhando pro meu ap?
- Não.
- Na frente da casa?
- Não.
- Onde?
- Na casa da minha avó, olhando pra casa dos cachorros.
- Porque você tá fazendo isso?
- Não sei.
(...)
- Fale o que foi, vá.
- Eu estava em pé exatamente onde tô agora. As duas casas já foram reformadas depois do que aconteceu, mas eu vejo tudo como se tivesse acontecendo agora. O muro da casa da minha avó era baixinho, um pouco menor que eu na época, então eu conseguia ver tudo. A casa da frente tinha o muro alto, mas o portão era de grade, dava pra ver aqueles monstros lá dentro. Eu tava jogando bola sozinho, na frente da casa da minha avó, e o cachorro apareceu na rua. Ele parou na frente da casa dos cachorros e ficou olhando um tempo. Ele era pequeno, do tamanho de um poodle, mas não lembro a raça. Ele foi em direção ao portão e enfiou a cabeça por entre as grades. Apesar de eu só ter cinco anos na época, já sabia o que ia acontecer. Um dos cachorros mordeu a cabeça dele e o puxou para dentro. O outro veio, e eles começaram a brigar pelo cachorrinho. Eu comecei a chorar e gritar, mas não fiz nada. Fiquei lá, assistindo, enquanto os dois rottweilers o estraçalhavam. De repente o dono da casa apareceu e espantou os cachorros, mas não havia sobrado muito dele pra contar a história. Meu pai veio ver o que estava acontecendo, e logo depois o dono do cachorrinho apareceu. Ele pegou o que havia sobrado, colocou num saco de lixo e levou embora.
(...)
- Aquela foi a primeira vez que eu vi o mal, puro e simples. Sem motivo nenhum, os rottweilers destruiram o cachorrinho. Acho que isso explica meu medo irracional de cachorros.
- Pare de olhar pra essa casa, vá. Saia daí.
- E eu só fiquei lá, assistindo.
- Você tinha cinco anos! O que caralho uma criança de cinco anos podia fazer numa situação dessa?
- Não sei, mas isso não impede ninguém de tentar.
- Pare de fazer isso com você, isso não ajuda em nada.
(...)
- Tenho que ir. Mais tarde te ligo.
- Tá bom, mas tente não pensar nisso.
- Ok. Tchau.
- Tchau.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Foi bom enquanto durou.

Mas, infelizmente, o que é bom dura pouco.

Hoje fui obrigado (não fui obrigado, mas o bom senso fala mais alto nessas horas) a cancelar Dead West. É uma merda, eu sei. Mas fiquei sabendo que já existe uma graphic novel semelhante, que inclusive tem o mesmo nome (o.O) e a mesma ladainha de índio ressuscitando os mortos (o.O²).

Sabe quando você tá enrolando com alguém, o clima entre vocês tá ótimo, você tá quase se apaixonando, aí chega alguém e te mostra uma foto dessa pessoa dando uns pegas em alguém do mesmo sexo?

Foi mais ou menos isso que aconteceu.

Perdi todo o tesão pela história depois dessa.

Como eu pude deixar isso passar?

Porra, o mesmo nome! Se eu tivesse tirando trinta segundos da minha vida pra pesquisar, provavelmente teria encontrado. Mas me deixei levar pela empolgação.

Erro de iniciante.

Isso só mostra que eu tenho que pesquisar MUITO antes de começar a escrever algo. Não tô com a mínima vontade de tomar um processo por plágio nas costas (pra não dizer no cu).

Bom... é isso. Quem quiser dar uma olhada na obra do cara, clique aqui.

Já tô fazendo minhas contas pra comprar um exemplar.

Agradeço ao apoio de todo mundo, o incentivo, críticas, o que quer que seja. E valeu também ao Eduardo (que eu nem conheço =p) e a Lemon pelo aviso. Sem esquecer da Dani, que fez o banner do blog.

E Wayne, Jesse e John... a jornada foi inesquecível. Até mais, parceiros. I fucking love you, guys.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

The red liquid

The sunlight burns his eyes and suddenly he is pulled from his dream. He hears the noises of the city. Cars, people walking, construction workers, noises he hears everyday, but none of them make any sense. He smells smoke and cheap coffee. He is hungry.

He gets up and starts walking slowly towards the entrance of the alley. From the point of view of the people passing by he is just another homeless person living in some alley in New York City, but they can never imagine what goes on in his mind. He steps into the street and sees lots of people walking, talking to each other, getting on with their lives. His hunger starts to grow.

He starts walking, uncertain of where he is going. The sun is bright and his eyes burn like hell. He walks slowly, looking at everyone around him, but he doesn't know what he is looking for. Someone bumps into him and yells something, but those noises mean nothing to him. He just keeps walking, like his life depends on it.

After a little while he stops in front of a little playground, where some children play. He looks at them for a while, and some images starts to pop up inside his head. He is confused, although he feels familiar with those images. A child playing with some toy cars, and a man and a woman looking at him, smiling. He almost knows who that little boy is, but finds it hard to recall. The man and the woman also look familiar, but he is not sure of who they are. Suddenly, the little boy gets up and starts running towards the man, but he trips and falls to the ground, hurting his hands. He starts crying while looking down at his hands, and a red liquit starts dropping from the wounds. Suddenly he comes back to reality and notices he is looking down at his hands, which are covered in scars.

The red liquid. His hunger grows.

He starts to walk again, a little faster this time. He is looking for something, but is not sure of what it is. His mind is tormented by those images. The red liquid dropping from the little boy's hands, he can almost smell it. He walks for a while when he sees a group of people gathered in the middle of the street. He walks towards the group and tries to look at what caught their attention.

There was a car stopped in the middle of the street and two bodies inside, both shot to death.

Suddenly some disturbing images start to flash before his eyes. The little boy enters a room and finds the man and the woman lying on the floor, covered in that red liquid, their eyes opened, their skin white as snow and their touch cold as the night. The little boy starts to scream and cry, and after a few seconds everything goes black.

He comes back to reality and feels disturbed. He starts to run away from that scene, run away from the slaughered parents and the screaming boy, but they keep chasing him. They keep coming after him, like he is a part of that image. Suddenly he sees a woman enter an alley all by herself. His hunger cannot be held back anymore.

He follows her into the alley, and when she notices him, she starts to run. He runs after her and eventually catches her. She starts screaming and tries to get something inside her purse, but he is faster then her and throws the purse away. He throws her towards the wall and she starts crying and saying something, but he doesn't hear anything. He can only hear the voices inside his head, telling him to rip her appart. He starts walking towards her as she begs for her life, and when she finally looks into his eyes she understands that not even God himself can save her. That man is the personification of death itself. She starts praying.

He grabs her by the shoulders and she tries to fight back, scratching him with her finger nails. He bites her in the arm and she starts bleeding. The smell of blood excites his nostrils and when he tastes it, his hunger finally gets out of control. He grabs her and bites her neck, tasting the blood as it sprays out. The wall slowly turns red and her screams get weaker, until she closes her eyes and stops fighting back. He lets go of her and she falls. She was dead before hitting the ground. He watches her lifeless body for a little while, tasting the blood. He starts walking towards the entrance of the alley. The sunlight burns his eyes and he is pulled of what might have been a dream. His hunger is quenched.

For now.

domingo, 3 de outubro de 2010

Ditadura democrática

Como todos sabem, hoje, dia 03/10/2010, é dia de exercermos a nossa cidadania. Como se só devêssemos fazer isso uma vez no ano, mas tudo bem. Vamos nos dirigir à nossa zona eleitoral e escolher aqueles que vão nos foder representar por 4 anos. Vamos emporcalhar a cidade (e gerar emprego, pois os garis estão aí pra isso), vamos fazer barulho, vamos colar adesivos de candidato em tudo que é canto (eu vi um CAVALO coberto de adesivos no caminho), tudo em nome da democracia. Democracia essa que nos obriga a votar. Democracia essa que, nos obrigando a votar, faz com que votemos em peças como essa:



É sério isso?

O melhor de tudo é a capacidade de digitar uma palavra de quatro letras da pessoa que postou esse vídeo:

"brunogty | 17 de agosto de 2010

O melhor
Dep. Estadual http://www.youtube.com/watch?v=xWGw7c...
eu VOLTO NO TIRIRICA ^^"

Pelo amor da puta que pariu, né?

Mas ei, vivemos num país democrático. Não podemos impedir alguém de se candidatar só porque ele faz questão de dizer que não sabe o que um deputado federal faz. Até porque nosso excelentíssimo presidente da República não sabe bem quantos dedos tem nas mãos.

Aí vem alguém e diz:

- Pelo menos o Tiririca não fica mentindo que vai fazer o mundo e o fundo quando for eleito e ele é engraçado.

Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaahh táááááááááááááá.

Vou votar nele pusquê ele não mente, independente do fato dele não fazer idéia do que tá fazendo. Vou votar nele pusquê ele me faz rir. Vou votar nele pusquê se não ele vai MORRÊÊÊÊÊÊÊ!

Se precisarem, eu ajudo a comprar o caixão.

-.-'

Considerações finais [debate mode on]:

1. Não vou fazer propaganda de ninguém aqui, até porque acho que cada um tem suas convicções e vota em quem achar melhor. Mas que tá cheio de palhaço por aí, tá.

2. O intúito deste post não é mostrar que eu tô revoltado com os políticos, e sim com os eleitores. Somos nós que escolhemos quem vai pra Brasília, então se o presidente é curintia, a culpa é nossa.

3. Já comecei o cap. 3 de Dead West, mas não tenho idéia de quando vou terminar. Paciência, jovens padawans. T_T

sábado, 11 de setembro de 2010

Block

Às vezes eu sento na frente do pc e digo para mim mesmo:

- Escreva.

Assim, do nada. Abro o bloco de notas (só escrevo no bloco de notas, Word me dá nos nervos) e fico encarando a tela branca por uns dez minutos, pensando em tudo que é assunto, mas nada concreto me vem em mente. Minha cabeça viaja pelo dia que eu tive, semana, mês, nos meus problemas e suas possíveis soluções, em algum filme (ou filmes) que eu tenha visto recentemente, seriados, desenhos, livros, tudo que você (na verdade eu) possa imaginar.

E assim eu fico, frustrado, sem conseguir escrever nada. Passam-se alguns dias e eu tento novamente, sem sucesso. Milhões de idéias rodeiam minha mente, mas nenhuma toma forma. Nenhuma vira texto, história, o que seja. A frustração só aumenta, e com isso, a falta de criatividade.

Maldito circulo vicioso.

Não faço idéia de qual seja a causa disso. Já gastei horas pensando nisso, e nada. Absolutamente nada.

O engraçado é que hoje, o que está me dando motivação para escrever é justamente essa falta de criatividade.

Quero falar sobre essa frustração que toma conta de mim quando passo mais de uma semana sem produzir nada. Quero falar sobre como fico inquieto, nervoso, irritado e até grosseiro com algumas pessoas quando isso acontece. Não sei porque escrever é importante a esse ponto para mim, mas é o que acontece. Eu poderia falar durante horas sobre isso tudo, mas vamos encarar os fatos: ninguém teria essa paciência.

Então basta eu dizer que, até quando eu pensar que não conseguirei escrever mais, eu vou conseguir escrever alguma coisa.

Descobrir esse dom foi uma das melhores coisas que me aconteceu, e eu não vou deixar um bloqueio criativo qualquer tirar isso de mim.

Não mesmo. ;]

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Casamento

O texto que segue não é da minha autoria. Na verdade, nem sei quem o escreveu ou se relata fatos verdadeiros. Mas o que sei é o seguinte: vale muito à pena gastar alguns minutos do seu dia para ler e refletir sobre ele. O recebi por e-mail ontem e ainda tô pensando nele. Espero que gostem como eu gostei.
_____________________________________________________________

Naquela noite, enquanto minha esposa servia o jantar, eu segurei sua mão e
disse: "Tenho algo importante para te dizer". Ela se sentou e jantou sem
dizer uma palavra. Pude ver sofrimento em seus olhos.

De repente, eu também fiquei sem palavras. No entanto, eu tinha que dizer
a ela o que estava pensando. Eu queria o divórcio. E abordei o assunto
calmamente.

Ela não parecia irritada pelas minhas palavras e simplesmente perguntou
em voz baixa: "Por quê?"
Eu evitei respondê-la, o que a deixou muito brava. Ela jogou os talheres
longe e gritou "você não é homem!" Naquela noite, nós não conversamos
mais. Pude ouví-la chorando. Eu sabia que ela queria um motivo para o fim
do nosso casamento. Mas eu não tinha uma resposta satisfatória para esta
pergunta. O meu coração não pertencia a ela mais e sim a Jane. Eu
simplesmente não a amava mais, sentia pena dela.
Me sentindo muito culpado, rascunhei um acordo de divórcio, deixando para
ela a casa, nosso carro e 30% das ações da minha empresa.

Ela tomou o papel da minha mão e o rasgou violentamente. A mulher com quem
vivi pelos últimos 10 anos se tornou uma estranha para mim. Eu fiquei com
dó deste desperdício de tempo e energia mas eu não voltaria atrás do que
disse, pois amava a Jane profundamente. Finalmente ela começou a chorar
alto na minha frente, o que já era esperado. Eu me senti libertado
enquanto ela chorava. A minha obsessão por divórcio nas últimas semanas
finalmente se materializava e o fim estava mais perto agora.

No dia seguinte, eu cheguei em casa tarde e a encontrei sentada na mesa
escrevendo. Eu não jantei, fui direto para a cama e dormi imediatamente,
pois estava cansado depois de ter passado o dia com a Jane.

Quando acordei no meio da noite, ela ainda estava sentada à mesa,
escrevendo. Eu a ignorei e voltei a dormir.

Na manhã seguinte, ela me apresentou suas condições: ela não queria nada
meu, mas pedia um mês de prazo para conceder o divórcio. Ela pediu que
durante os próximos 30 dias a gente tentasse viver juntos de forma mais
natural possivel. As suas razões eram simples: o nosso filho faria seus
examos no próximo mês e precisava de um ambiente propício para prepar-se
bem, sem os problemas de ter que lidar com o rompimento de seus pais.

Isso me pareceu razoável, mas ela acrescentou algo mais. Ela me lembrou do
momento em que eu a carreguei para dentro da nossa casa no dia em que nos
casamos e me pediu que durante os próximos 30 dias eu a carregasse para
fora da casa todas as manhãs. Eu então percebi que ela estava
completamente louca mas aceitei sua proposta para não tornar meus próximos
dias ainda mais intoleráveis.

Eu contei para a Jane sobre o pedido da minha esposa e ela riu muito e
achou a idéia totalmente absurda. "Ela pensa que impondo condições assim
vai mudar alguma coisa; melhor ela encarar a situação e aceitar o
divórcio" ,disse Jane em tom de gozação.

Minha esposa e eu não tínhamos nenhum contato físico havia muito tempo,
então quando eu a carreguei para fora da casa no primeiro dia, foi
totalmente estranho. Nosso filho nos aplaudiu dizendo "O papai está
carregando a mamãe no colo!" Suas palavras me causaram constrangimento. Do
quarto para a sala, da sala para a porta de entrada da casa, eu devo ter
caminhado uns 10 metros carregando minha esposa no colo. Ela fechou os
olhos e disse baixinho "Não conte para o nosso filho sobre o divórcio" Eu
balancei a cabeça mesmo discordando e então a coloquei no chão assim que
atravessamos a porta de entrada da casa. Ela foi pegar o ônibus para o
trabalho e eu dirigi para o escritório.

No segundo dia, foi mais fácil para nós dois. Ela se apoiou no meu peito,
eu senti o cheiro do perfume que ela usava. Eu então percebi que há muito
tempo não prestava atenção a essa mulher. Ela certamente tinha envelhecido
nestes últimos 10 anos, havia rugas no seu rosto, seu cabelo estava
ficando fino e grisalho. O nosso casamento teve muito impacto nela. Por
uns segundos, cheguei a pensar no que havia feito para ela estar neste
estado.

No quarto dia, quando eu a levantei, senti uma certa intimidade maior com
o corpo dela. Esta mulher havia dedicado 10 anos da vida dela a mim.

No quinto dia, a mesma coisa. Eu não disse nada a Jane, mas ficava a cada
dia mais fácil carregá-la do nosso quarto à porta da casa. Talvez meus
músculos estejam mais firmes com o exercício, pensei.

Certa manhã, ela estava tentando escolher um vestido. Ela experimentou uma
série deles mas não conseguia achar um que servisse. Com um suspiro, ela
disse "Todos os meus vestidos estão grandes para mim". Eu então percebi
que ela realmente havia emagrecido bastante, daí a facilidade em
carregá-la nos últimos dias.

A realidade caiu sobre mim com uma ponta de remorso... ela carrega tanta
dor e tristeza em seu coração..... Instintivamente, eu estiquei o braço e
toquei seus cabelos.

Nosso filho entrou no quarto neste momento e disse "Pai, está na hora de
você carregar a mamãe". Para ele, ver seu pai carregando sua mão todas as
manhãs tornou-se parte da rotina da casa. Minha esposa abraçou nosso filho
e o segurou em seus braços por alguns longos segundos. Eu tive que sair de
perto, temendo mudar de idéia agora que estava tão perto do meu objetivo.
Em seguida, eu a carreguei em meus braços, do quarto para a sala, da sala
para a porta de entrada da casa. Sua mão repousava em meu pescoço. Eu a
segurei firme contra o meu corpo. Lembrei-me do dia do nosso casamento.

Mas o seu corpo tão magro me deixou triste. No último dia, quando eu a
segurei em meus braços, por algum motivo não conseguia mover minhas
pernas. Nosso filho já tinha ido para a escola e eu me vi pronunciando
estas palavras: "Eu não percebi o quanto perdemos a nossa intimidade com o
tempo".

Eu não consegui dirigir para o trabalho.... fui até o meu novo futuro
endereço, saí do carro apressadamente, com medo de mudar de idéia...Subi
as escadas e bati na porta do quarto. A Jane abriu a porta e eu disse a
ela "Desculpe, Jane. Eu não quero mais me divorciar".

Ela olhou para mim sem acreditar e tocou na minha testa "Você está com
febre?" Eu tirei sua mão da minha testa e repeti "Desculpe, Jane. Eu não
vou me divorciar. Meu casamento ficou chato porque nós não soubemos
valorizar os pequenos detalhes da nossa vida e não por falta de amor.
Agora eu percebi que desde o dia em que carreguei minha esposa no dia do
nosso casamento para nossa casa, eu devo segurá-la até que a morte nos
separe.

A Jane então percebeu que era sério. Me deu um tapa no rosto, bateu a
porta na minha cara e pude ouví-la chorando compulsivamente. Eu voltei
para o carro e fui trabalhar.

Na loja de flores, no caminho de volta para casa, eu comprei um buquê de
rosas para minha esposa. A atendente me perguntou o que eu gostaria de
escrever no cartão. Eu sorri e escrevi: "Eu te carregarei em meus braços
todas as manhãs até que a morte nos separe".

Naquela noite, quando cheguei em casa, com um buquê de flores na mão e um
grande sorriso no rosto, fui direto para o nosso quarto onde encontrei
minha esposa deitada na cama - morta.
Minha esposa estava com câncer e vinha se tratando a vários meses, mas eu
estava muito ocupado com a Jane para perceber que havia algo errado com
ela. Ela sabia que morreria em breve e quis poupar nosso filho dos efeitos
de um divórcio - e prolongou a nossa vida juntos proporcionando ao nosso
filho a imagem de nós dois juntos toda manhã. Pelo menos aos olhos do meu
filho, eu sou um marido carinhoso.

Os pequenos detalhes de nossa vida são o que realmente contam num
relacionamento. Não é a mansão, o carro, as propriedades, o dinheiro no
banco. Estes bens criam um ambiente propício a felicidade mas não
proporcionam mais do que conforto. Portanto, encontre tempo para ser amigo
de sua esposa, faça pequenas coisas um para o outro para mantê-los
próximos e íntimos. Tenham um casamento real e feliz!

Se você não dividir isso com alguém, nada vai te acontecer.

Mas se escolher enviar para alguém, talvez salve um casamento.
Muitos fracassados na vida são pessoas que não perceberam que estavam tão
perto do sucesso e preferiram desistir..
___________________________________________________________

Só tenho um comentário a fazer: Às vezes tudo que procuramos está ali, do nosso lado, só esperando que percebamos sua existência, e tudo que fazemos é olhar para o outro lado, em busca de algo que nunca vamos encontrar.

Pense nisso.

Eu sei que eu estou.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Propaganda é a alma do negócio

Então, galerinha do mal, quem me conhece sabe que eu sempre quis escrever uma história sobre zumbis. Quem me conhece mais ainda sabe que eu tive a brilhante idéia de misturar zumbis e faroeste. E quem realmente me conhece sabe que eu sempre me achava despreparado para começar a bendita.

Hoje tomei vergonha na cara e comecei. =D

Como já deu pra perceber, a história se passa no velho oeste dos Estados Unidos e vai ter muito sangue, tripas voando, cheiro de pólvora e onomatopéia de tiro. Mas não vou postá-la aqui. Como ela não tem final definido, e eu quero que dure muito tempo, resolvi criar outro blog só pra ela. A história vai se chamar Dead West e vou tentar postar algo a cada duas semanas (mas, obviamente, não vai dar pra fazer isso sempre).

Comecei postando uma introduçãozinha básica, só para situar vocês no ambiente apocalíptico da coisa e amanhã começo a história propriamente dita.

Então, que comece a matança: Dead West

segunda-feira, 12 de julho de 2010

A meteor to the head

Estou morrendo.

Não agora, mas a morte é inevitável. Logo, estou morrendo.

Eu sei que isso é estúpido, o problema é que às vezes entro em pânico por causa disso. Saber que eu estou aqui, vivinho da silva (ou não) e daqui a 5 minutos um meteoro pode cair na minha cabeça realmente me assusta.

Será que eu vou sentir dor?

Será que vai ser rápido?

Será que eu vou levar um tiro? Uma facada? Ser atropelado? Cair de um lugar alto? Será que vou cometer suicídio? Será que vou morrer de alguma doença? Câncer? Aids? Gripe suína?

Pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiose?

Será que vai cair um meteoro na minha cabeça?

Será que vou ver a tal luz branca que todo mundo fala? Será que vai passar um filme chamado "A medíocre vida de Leonardo Amorim" na minha frente?

O que eu vou pensar quando me der conta que chegou minha vez? Como vou me sentir?

O que será que tem do outro lado?

Não vou mentir, isso me intriga muito. Já quis morrer só pra saber se tinha algo me esperando depois.

Céu? Inferno? Purgatório? Nada? Hooters?

E o pior: quando será?

Cara... pode ser amanhã!!! Eu posso estar lá trabalhando e de repente um meteoro cai na minha cabeça!

Outra coisa que penso muito é se vou ser capaz de fazer tudo que quero antes de morrer.

Lançar livros, ir no Palestra ver o Palmeiras ser campeão da Libertadores (se eu fosse corintiano podia riscar essa da lista, never gonna happen), ir num show do Machine Head, Pain of Salvation, The Black Dahlia Murder, Devildriver ou Rush (se der tudo certo, dia 08/10 estou no MorumBieber mijando no escudo dos bambis ao som de Leave That Thing Alone), morar no exterior, assistir todos os filmes da Torre Negra, conhecer o Stephen King, montar uma banda e lançar cds...

Até que minha lista não é muito extensa.

O pior de tudo é não saber nada disso. Mas por via das dúvidas, vou começar a monitorar os meteoros que rodeiam o planeta.

Também gostaria de saber o que vai acontecer depois da minha morte. Como vai ser meu
funeral? Vai ter a bandeira do Palmeiras que eu pedi? Quem vai? Vai ser no Colina da
Saudade? Vai cair um meteoro lá?

Mas de uma coisa eu sei. Definitivamente não quero morrer afogado ou queimado.

Tá, definitivamente não quero morrer, mas já que não tem jeito, não quero que seja afogado ou queimado.

Prefiro que caia um meteoro na minha cabeça.

Uma vez assisti um filme onde o cara tá numa caverna, e depois de caminhar um pouco ele acha um laguinho. A água é bem cristalina, e mesmo com a escuridão, ele vê perfeitamente dentro da água. Ele entra, começa a nadar e logo é forçado a mergulhar, devido a uma parede de pedra. Ele olha e vê a luz do dia um pouco à frente. Então começa a nadar, totalmente submerso, pois a água vai até o "teto". Depois de um tempo ele começa a perder o fôlego e não vê sinal da saída, então acha melhor voltar. Mas ele já havia nadado muito, e não consegue chegar ao lugar onde estava antes. Começa a se desesperar, nadar pra qualquer lado, sem encontrar um lugar onde possa colocar a cabeça pra fora d'água. Ele morre ali, boiando rente ao teto.

Aposto meu psp que ele pensou que seria melhor que caísse um meteoro na cabeça dele. Seria bem mais rápido.

Outro dia li um artigo no Wikipedia sobre um monge budista que ateou fogo nele mesmo em protesto a alguma coisa. As pessoas presentes falaram que ele não se moveu ou emitiu sons. Depois de alguns segundos o cheiro de carne queimada começou a subir, até ficar insuportável, e ele continuou sentado, imóvel, calado, até virar churrasquinho. Monges têm um controle incrível sobre seu corpo e mente, mas isso não impede ninguém de sentir uma dor horrível quando se queima. Imagina queimar até virar combustível de churrasqueira.

Meteoro me livre.

Será que só eu perco tempo pensando nisso? Ou existem mais Leonardos por aí piscando pelo mesmo motivo?

Como falei antes, a morte é inevitável, então deveria ser aceita como algo natural, parte da vida. Mas como a gente pode simplesmente aceitar que um dia vamos deixar de existir? Eu estou acostumado a estar vivo, então a idéia de morrer um dia me parece absurda. Mas, como já dizia um sábio desconhecido, para morrer basta estar vivo.

E que algum meteoro tenha uma rota de colisão fixa com sua cabeça.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Canção do lixo

Seeeeeeeenta que lá vem a história...

29/04/2003
Eu tinha 16 anos. Estava cursando o primeiro ano do ensino médio no CEFET-SE, aquele centro de formação de criminosos.
A professora de português/literatura passou um trabalho, onde deveríamos pegar um poema e adaptá-lo à nossa realidade.
Bom, aqui em Aracaju tem um conjunto chamado Padre Pedro, também conhecido como Terra Dura (Hardlands, para os íntimos), que é bastante conhecido por um lixão que tem lá.
É... vocês sabem como minha mente trabalha. (6)

Canção do Lixo

Minha terra é dura.
Onde lixo vamos catar;
Os urubus que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais fumaça,
Nossas várzeas têm mais flores (mortas),
Nossos bosques, que bosques?
Nossa vida mais horrores.

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu cá;
Minha terra é dura,
Onde lixo vamos catar.

Minha terra tem fedores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar -sozinho, à noite-
Mais prazer encontro eu cá;
Minha terra é dura,
Onde lixo vamos catar.

Não permita, Deus, que eu morra,
Sem que eu possa ajudar;
Os catadores que lá vivem
Para que prazer possamos encontrar lá;
Minha terra é dura,
Onde lixo vamos catar.

domingo, 27 de junho de 2010

Ler ou não ler, eis a questão

Brasileiro tem preguiça de ler. Isso é fato.

Muita gente fala que não lê porque não tem tempo. Pura ladainha. Não lê porque tem preguiça mesmo. Até eu, que gosto pra caramba de ler, às vezes tenho preguiça. Pra vocês terem uma idéia, comprei O Iluminado tem umas 2 semanas e até agora só li 2 capítulos. A história tá foda, não é cansativo, tem tudo pra ser aquele livro que a gente devora em 2 dias ou menos. Mas, esses dias, eu tô com uma preguiça absurda de parar para ler.

Quem não gosta de ler e admite, tudo bem. Mas não gostar/tem preguiça e ficar dizendo que é falta de tempo, pera lá, né?

Aí eu recebo um e-mail no trabalho dizendo que eu estou "altorizado" a fazer a "auteração" na data da viagem do secretário de não sei o quê.

Essa pessoa tem tempo pra ler? Provavelmente tem. Mas o gasta indo pra Aviões Elétrico, Pré-Caju, Forró do Caralho a Quatro, para algum posto de gasolina procurar alguém pra ir pro motel, etc. E depois quer dizer que não tem tempo.

E o pior de tudo é que a própria cultura brasileira incentiva isso. Vocês já viram alguma propaganda de livro na tv? Eu não. Tudo bem que quase não assisto tv, mas quando assisto, passam milhares de propagandas de cd e dvd de Maria Cecília e Rodolfo, Luan Santana, Bonde do Forró, e essas vuvuzelas que algumas pessoas insistem em chamar de música.

Achando que não era o bastante, as escolas começaram a incentivar as pessoas a parar de comprar e ler livros. Essa semana vi um outdoor de um determinado colégio que dizia "Nestas férias, não deixe de ler. Alugue filme legendado".

MEU PAU DE ASA!

Se, nessas férias, você não quer deixar de ler, COMPRE UM LIVRO! Peça emprestado a algum amigo, vá na biblioteca da escola, baixe na internet, o que for. Mas alugar um filme legendado para dizer que leu alguma coisa nas férias é demais. Ano que vem vão lançar a campanha "Nestas férias, não deixe de ler. Leia este outdoor todo dia".

Porra, é revoltante. Não tô falando como alguém que escreve e pretende viver disto, tô falando como uma pessoa qualquer. É por isso que às vezes me acho velho por gostar de ler, jogar xadrez, etc. Essa juventude tá perdida.

Mas também, com um analfabeto como presidente, o que mais podia se esperar?

quarta-feira, 16 de junho de 2010

"Ensaio sobre a cegueira"

Hoje fui no oftalmologista ver se estava ficando cego (juro que o trocadilho não foi intencional).

Para situar vocês, há uns 3 dias venho sentindo uma ardência nos olhos, junto com uma coceira. Tava incomodando muito e eu não conseguia fazer as coisas direito. Então marquei uma consulta pra ver o que tinha de errado.

Saí do trabalho mais cedo, cheguei lá em cima da hora, a leitora de impressão digital se recusou a me reconhecer, como sempre, mas, por fim, consegui ser atendido. Depois de muito remexer nos meus olhos, a médica mandou dilatar minhas pupilas. A enfermeira veio e aplicou o colírio, e em 10 minutos eu não enxergava mais nada.

Cegueira.

Tá, eu não estava completamente cego, mas estava enxergando MUITO mal. Tudo extremamente turvo. Então desisti de tentar enxergar e fechei os olhos.

Comecei a escutar as conversas ao meu redor.

O som da tv.

Os passos. Muitos deles.

De repente percebi que também sentia os cheiros.

Primeiro o cheiro do café na máquina perto de mim.

Depois o cheiro enjoativo do meu sapato (dica: nunca compre sapatos na Millenium calçados, o cheiro vai te assombrar pelo resto da sua vida)

Senti o vento gelado do ar-condicionado deslizar sobre minha pele.

Eu já havia esquecido do mundo ao meu redor, apesar de tudo que eu ouvia e sentia me lembrar dele.

Confuso isso.

Mas toda a confusão que eu sentia, todas as dúvidas simplesmente sumiram.

Eu consegui despertar um senso mais aguçado das coisas. Como se eu pudesse percebê-las em outro nível.

Nós estamos acostumados a VER tudo, mas raramente ouvimos ou sentimos. Até quando ouvimos uma música, nós visualizamos o artista tocando. Não somos nada sem nossa visão.

Mas, depois de perdê-la temporariamente, "vi" como meus outros sentidos também importam. Agora, estou prestando total atenção no som das teclas quando as pressiono, no som dos passos e da conversa da minha família, no som do ventilador, no som da minha respiração. Também estou sentindo o vento que vem dele e no cheiro da comida lá embaixo. Estou até prestando atenção no som da minha mão deslizando pelos meus cabelos quando os ajeito ou das minhas unhas coçando a barba.

É incrível como essas coisas passam despercebidas. É como respirar, você nunca lembra até alguém falar sobre. Numa escala maior, é como a vida. Quando você se dá conta, já está com 80 anos, sentado numa poltrona, mudando o canal da tv e imaginando quanto tempo vai demorar até que a morte tome vergonha na cara e venha te buscar.

Se você deixar as coisas passarem despercebidas na sua frente, você não está vivendo, está simplesmente vivo. Se você só vê as coisas, mas não as percebe completamente, você está no automático.

E eu devo reconhecer, até hoje vivia no automático. Mas graças a duas gotas de colírio em cada olho, percebi as coisas de uma maneira mais profunda.

Depois de vinte e três anos, consegui me sentir menos distante das coisas.

Obrigado, Mydriacyl.

Muito obrigado.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Mentiras verdadeiras

Não sei porque as pessoas fazem tanto estardalhaço por causa de mentiras.

Antes de mais nada, é melhor deixar claro que eu não acho que mentira seja uma coisa linda, só não acho que seja algo tão horrível assim. Afinal é uma característica inerente do ser humano.

Quando você corta o cabelo e pergunta para alguém se ficou bom, você espera que a pessoa responda a verdade, mesmo que seja uma verdade ruim. Mas e se ela mentir para não te magoar? Isso é algo tão ruim assim? Vamos esquecer a mentira em sim por um minuto e analisar o motivo: a pessoa mentiu porque se importa com você. Isso não conta para nada?

As pessoas mentem para se proteger também. E tentar se proteger é algo tão natural quanto respirar. Isso não mostra que você é uma pessoa horrível, mostra apenas que você é, de fato, uma pessoa. Por que isso é tão condenável?

Todo mundo já mentiu uma vez na vida. Eu menti, você mentiu, Richard Nixon mentiu e Pinocchio, coitado, não vou nem começar a falar sobre ele. Não importa o porquê, todos nós já mentimos. Então por que condenamos tanto os outros quando eles mentem?

Não estou dizendo que todo mundo devia começar a mentir aleatoriamente, só acho que as pessoas podiam tentar refletir mais antes de começar a condenar alguém por ter mentido. Esqueça um pouco a mentira em si e olhe o motivo. Talvez você fizesse o mesmo se estivesse no lugar da outra pessoa. Mentiras podem ser evitadas, mas existem situações em que elas são necessárias. Isso é inevitável. E aceitar o inevitável é algo completamente... bem... aceitável. E aceitar o fato de que as pessoas mentem pode levar a um auto-conhecimento maior. Você passa a conhecer mais seus limites, o que você seria capaz de fazer em certas situações e também o que outras pessoas seriam capazes de fazer nas mesmas situações. E isso nada mais é do que saber conviver consigo mesmo e com os outros.

I lie.
You lie.
He lies.

Everybody lies.

Sempre achei o House um cara sábio.

domingo, 30 de maio de 2010

Lágrimas sinceras

- Pai, por que tá todo mundo chorando?
- Porque o vovô se foi, filho.
- Mas ele não vai voltar?
Jacob tinha apenas 4 anos, ele não entendia o que era morte. Ter que explicar isso para seu filho era um sacrifício para Tom.
- Senta aqui, campeão.
Ele se sentou no colo do pai, com o olhar mais inocente e interessado do mundo.
- Lembra quando o papai explicou pra você como você tinha nascido?
- Lembro.
- Então, as pessoas nascem, ou "vêm" para o mundo, mas elas também morrem, ou "vão embora". Só que esse "ir embora" é para sempre.
- Então o vovô não vai voltar?
- Não, Jake. Dessa vez o vovô não volta.
Jake olhou para as próprias mãos, que estavam repousadas em cima de suas coxas. Um olhar profundamente triste toma conta de seu rosto, e Tom sentiu um nó na garganta.
- Mas eu gostava tanto dele, papai.
- Eu sei, Jake. Todos nós gostávamos. E ainda gostamos, não é? Não é só por que ele se foi que vamos deixar de gostar dele.
- É... acho que sim. Mas para onde ele foi?
- Ele foi pra perto do papai do Céu, filho.
- Ah... mas e se os médicos trouxerem ele de volta?
- Os médicos já fizeram tudo que podiam, Jake. Infelizmente, não há mais nada.
Jake simplesmente abaixou a cabeça e voltou a observar suas mãos.
- E se eu tentasse, papai?
Tom sentiu que ia desabar. Era difícil demais fazer isso. Ele tinha forças para suportar a dor de peder um pai, mas não de ver seu filho passar por isso. Ele abraçou Jake e começou a chorar.
- Pai, o que foi? Me desculpa, não queria fazer o senhor chorar.
- Jake...
Quando se acalmou, ele tentou explicar que não havia mais nada que eles pudessem fazer.
- Filho, o vovô já foi. Eu também queria muito que ele voltasse, mas não vai ser possível.
- Já sei!
Jake se levantou e saiu correndo. Vinte segundos depois ele voltou correndo com o celular do pai nas mãos, sorridente.
- Vamos ligar pra ele, papai! Se eu falar com ele, sei que ele vai querer voltar.
Foi a gota d'água. Tom abraçou Jake com força e voltou a chorar. Por mais que o garoto não entendesse o que estava acontecendo, ele sabia que Jake era quem mais estava sofrendo aquela perda. Depois de algum tempo, ele se recompôs e tentou explicar novamente para Jake o que havia acontecido.
- Filho, onde o vovô está não tem telefone. Não existe nenhuma maneira para falarmos com ele, porque para o lugar onde ele foi, não tem volta.
- É muito longe?
- É o lugar mais longe que existe.
- Então ele foi pro Japão?
- Não, Jake. É mais longe que o Japão.
- Ele tá na lua?
- Também não. É mais longe que qualquer lugar que você possa imaginar.
- Então se ele não vai voltar, eu não vou ganhar presente, certo?
- Certo.
- Poxa... mas eu nem queria presente, só queria que ele voltasse. Só isso já seria o melhor presente do mundo.
Isso era doloroso demais para Tom. Ele precisava acabar com isso.
- Jake, quer se despedir dele?
- Ele tá aqui?
- Mais ou menos. O corpo dele está aqui, mas está dormindo e não vai acordar. Porque a mente dele foi para aquele lugar mais longe que existe, entende?
- Acho que sim... Mas onde ele tá?
- Logo ali, vamos.
Tom segurou na pequena mão de Jake e o conduziu ao caixão. Por mais mórbidos que caixões sejam, ele não podia deixar de reparar na beleza que aquele tinha. Era uma peça muito bem trabalhada em madeira reluzente, com alças adornadas em ouro e as inscrições "Thomas Cross, marido, pai e avô amado. Que proteja sua família e os receba com alegria." na tampa.
- Pai, o que é aquela coisa de madeira?
- Aquilo é um caixão, Jake. É ali que o vovô está.
- Por que?
- Porque é onde as pessoas que estão do mesmo jeito que o vovô ficam. Depois fecham o caixão e colocam naquele buraco no chão.
Explicar essas coisas fez Tom perceber que nunca mais veria o seu pai, que agora tudo que possuía sobre ele eram lembranças.
- Por que?
- Para que ele possa dormir para sempre, já que ele não vai acordar.
- Mas já tentaram jogar água nele?
- Já, filho.
- E dar tapas na cara dele?
- Já.
- Gritaram no ouvido dele?
- Gritaram.
Eles seguiram até o caixão em silêncio. Quando chegaram lá, Tom colocou Jake no colo, para que ele pudesse ver dentro do caixão.
- Oi, vovô.
- Jake, ele não vai...
- Eu sei, papai, ele está dormindo. Mas eu queria dizer oi para ele antes que colocassem ele naquele buraco.
- Pela última vez?
- É.
- Então não quer aproveitar e falar algo pra ele?
- Quero.
- Você quer que eu saia?
- Não, papai. Pode ficar aqui comigo?
- Claro, filho. Não vou te deixar.
Jake deslizou sua pequena mão para dentro da mão do pai e a apertou com força. Ficou calado por um tempo, apenas olhando para o rosto do avô. Tom começou a lembrar de todos os momentos em que viu os dois juntos. Eles estavam sempre sorrindo, brincando, se divertindo. Eles eram felizes juntos.
- Vovô, não sei porque você decidiu ir embora. Eu gostava muito do senhor, você era o melhor avô do mundo. Eu vou sentir falta de todas as vezes que brincamos de bola juntos, que você corria atrás de mim pela casa, tentando me fazer cócegas, de como você nunca me comprava presentes caros, mas que eram os melhores mesmo assim, de como você me protegia sempre que eu tinha medo de algo. Eu sei que o papai pode me proteger, mas vou sentir falta mesmo assim. Se você decidiu ir embora por algo que eu fiz, me desculpe, eu não quis te magoar. Queria muito que você voltasse, vovô, mas o papai me disse que isso é impossível.
Tom estava envolto em lembranças de Jake e Thomas juntos, mas foi tirado dos seus devaneios pelo silêncio. Todos haviam se calado para prestar atenção no que Jake dizia. Jake estava chorando e sua voz tremia.
- Se você decidir voltar, eu vou ficar muito feliz, vovô. Mas se você não voltar, quero que saiba que eu nunca vou esquecer de você e que vou amar o senhor para sempre.
Tom, e todos os presentes no funeral, estavam chorando.
- Eu te amo, vovô.
Jake colocou a mão no seu bolso e retirou algo que Tom não reconheceu a princípio, mas depois de algum esforço lembrou do aniversário de 1 ano do filho, quando Thomas o presenteou com o primeiro carrinho que ele havia construído quando era criança. Aquele carrinho foi o primeiro de uma coleção de mais de cem carrinhos que Thomas construiu ao longo dos anos. Era o mais valioso de todos. Jake o depositou sobre o peito do avô.
- Pai, pode colocar as mâos dele em cima do carrinho?
Jake lutava para não chorar mais.
- Claro, filho.
Ele fez o que o filho havia pedido.
- Quer falar mais alguma coisa?
- Não... posso só dar um beijo nele?
- Claro.
Tom segurou Jake para que ele pudesse beijar o avô dentro do caixão.
- Tchau, vovô.
- Tchau, pai. Vou sentir muito sua falta.
Quando Tom virou para se retirar, percebeu que todos os presentes haviam formado uma fila atrás dele.
- Tom, eu sinto muito. Jake, vai ficar tudo bem. - disse Ed, o primeiro da fila um velho amigo de Thomas.
Jake não respondeu, apenas olhava para baixo. Ed deu um beijo na testa do garoto e se retirou com lágrimas nos olhos. O processo se repetiu até que todos os presentes haviam cumprimentado Tom e Jake. Eles ficaram em silêncio durante um tempo, lembrando dos seus momentos com Thomas. Alguns minutos depois o padre iniciou a cerimônia, e então todos puderam finalmente se despedir do velho e querido Thomas.

Quando a cerimônia havia terminado, Tom e Jake caminhavam para o carro de mãos dadas e Tom percebeu que Jake apertava sua mão com força.
- Tudo bem, filho?
Jake afirmou com a cabeça, mas visivelmente se segurava para não chorar.
- Você quer chorar?
Então Jake abraçou o pai com força e começou a chorar. Um choro sincero de dor e saudade. Tom não conseguiu segurar, abraçou Jake e também derramou algumas lágrimas.
- Eu vou sentir muita falta dele, papai, eu o amava muito.
Jake estava chorando como nunca havia chorado na vida.
- Eu sei, filho, eu também. Mas nós precisamos continuar nossas vidas. Teremos sempre lembranças boas do vovô conosco, mas precisamos seguir em frente.
- E como faremos isso?
- Sendo fortes, filho. Por mim, por você, e pelo vovô. Seja forte.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Despedida

Estou cansado.

Isso resume bem como me sinto.

Depois de tanto tempo fazendo o que faço, é normal que eu esteja assim. Já tive minha cota de decepções nesta existência e, sinceramente, estou cansado.

Podem até falar que estou fazendo drama, e pode até ser verdade, mas o que acontece é que eu já dei chances demais para os outros e, mais importante, para mim mesmo. Todo dia digo para mim mesmo que as coisas vão melhorar, que as pessoas vão parar de me decepcionar, mas é sempre a mesma coisa. Todos só querem saber de subir na vida, de conseguir o que querem sem se importar com o próximo.

Você deve estar pensando que eu estou num daqueles momentos "sou o dono da verdade".

Mas EU SOU o dono da verdade, afinal eu criei este Universo e tudo que ele guarda.

E, depois de todos esses milênios vendo a humanidade jogar sua própria humanidade no ralo, finalmente cansei.

"Não se preocupe, Deus vai te compensar", eles dizem. "Se aconteceu assim, é porque Deus quis", eles falam. Por que tudo tem que ser culpa minha? Por que DIABOS eu tenho que compensar todo mundo? Eu dei pernas para vocês, mas a intenção é que vocês próprios aprendessem a caminhar. Ou a palavra "babá" está escrita na minha testa?

Desculpem, vocês não conseguem ver minha testa. Mas não está, só pra constar.

Agora pare e pense. Quando você tem um filho, você o imagina crescendo feliz, cercado de amigos, estudando e sem se meter em confusão. Quando cresce, arrumando um bom emprego, achando uma boa moça para namorar, entrando na faculdade, se formando, tendo filhos e tendo uma vida boa. Perfeita.

Mas o que realmente acontece é que ele cresce no meio de amigos encrenqueiros que roubam o dinheio do lanche dele. Logo ele começa a fazer isso também. Começa a fumar na adolescência, engravida uma mocinha e não quer assumir o filho. Começa a usar drogas e vender as coisas para puder pagar as dívidas com os traficantes. Depois de adulto começa a cometer crimes e vai preso. E você vê seu querido filho, o qual você tinha tantos planos e depositava tanta esperança ser espancado até a morde dentro de uma cela por um cigarro que ele roubou de outro preso.

Agora imaginem ver 6 bilhões de filhos nesta situação. Isso sem contar o outro que foi assassinado na cruz por tentar fazer a coisa certa.

Estão começando a entender como me sinto?

Bom. Ótimo.

Porque, como já falei diversas vezes, estou cansado.

E assim como eu me tornei, vou deixar de ser.

Agora vocês estão por conta própria.
____________________________________________________

Um pedaço de papel com estas palavras foi encontrado no local onde supostamente Jesus foi crucificado, escrito em 13 idiomas. Duas semanas após o encontro, vários terremotos deixaram a América do Sul em alerta, e pouco tempo depois uma nuvem de cinzas gigante trouxe o caos para a Europa. Religiosos afirmam que este é o começo do fim.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Despertar - Final

E então, eu estava no meu quarto, deitado na cama, suando e olhando para o teto. Eu ainda não estava conseguindo raciocinar direito. Depois de um tempo, percebi que tudo havia sido um sonho. Essa era justamente a idéia que tinha cruzado minha mente quando cheguei perto do elevador, mas se eu fosse verificar se era um sonho ou não, poderia acabar acordando e nunca chegaria à raiz do problema. Olhei para as minhas cicatrizes, que eu realmente havia ganhado em jogos e comecei a rir. Que peça minha mente havia me pregado.

Tomei uma ducha, rindo da minha própria cara, e me arrumei para ir para a escola. Por mais que tivesse sido um sonho, pareceu real. Eu ainda podia sentir umas pontadas de dor em algumas cicatrizes. E parando para pensar... aquele diretor não me parecia muito confiável. Não, é só minha imaginação se empolgando com esse sonho maluco que tive.

Fui para a escola e quando cheguei lá vi que meu pai não estava lá, o que era realmente normal, Alex não estudava lá, o que era normal também, não havia nenhum grupo querendo invadir a escola, o que também era normal, e a Anna simplesmente me ignorou, o que era mais normal ainda. Mas então por que eu estava tão inquieto?

Assisti a primeira aula sem prestar muita atenção, lembrando do sonho. Lembrando da facilidade com que eu matava aquelas pessoas. Lembrando do quanto Anna me pedia para não matar, de como eu não sabia se ela estava sendo forte, ou fraca. Lembrando da sede de sangue que tomava conta de mim a cada minuto que passava.

E então percebi que essa sede de sangue estava se manifestando de verdade. Eu queria entrar num campo de batalha, eu queria tirar a vida das pessoas. E então lembrei do Alex morrendo no meu sonho. Eu tinha que falar com ele. Saí da sala e liguei para ele:

- Alex? É o John.

- E aí, John, tudo bem?

- Na verdade, não. Preciso conversar com você, você pode sair da aula?

- Deu sorte, não estou na aula. Aparece aqui em casa.

- Tudo bem.

Então peguei minha mochila e fui pra casa do Alex, sem saber a surpresa que teria quando chegasse lá.



- Eu tive um sonho esta noite, cara. Um sonho muito estranho.

- Conta.

Alex, como sempre, estava jogando vídeo-game. Ele já tinha zerado praticamente todos os jogos que já haviam sido lançados na história da humanidade, e já sabia o que aconteceria nas sequências que nem haviam sido lançadas ainda.

- Você estudava na minha escola, e um dia um grupo armado tentou invadir a escola. Nós conseguimos matar alguns deles, roubar suas armas e tal. Eles diziam que queria chegar no elevador da escola, algo a ver com o diretor e os crimes que ele cometia. No meio do fogo cruzado você foi morto e...

- Porra, eu morri? Você não conseguiu nem me salvar?

- Cala a boca e me escuta. Quando cheguei no elevador um dos caras me levou pro subsolo e lá disse que o diretor da escola sabia apagar a memória das pessoas, e então ele fazia testes ilegais nelas e depois apagava a memória. E que eu, você e uma garota de lá da sala éramos cobaias.

- O quê você fumou ontem?

- O pior é que eu vi umas fotos, no sonho, dos testes que eles faziam comigo, e cada um desses testes deixava uma cicatriz, que eram exatamente iguais as que tenho. – neste momento, levantei a camisa e mostrei uma cicatriz que eu tinha na barriga.

E então Alex também levantou sua camisa e eu vi que ele tinha uma igual.



- Cê tá me zoando, cara. – ele disse, rindo.

- Alex, que porra é essa? A gente tem a mesma cicatriz!

- Eu to vendo, mas deve ser a única. Quero dizer, você não deve ter uma dessas também. – E mostrou uma cicatriz nas costas. Exatamente igual a uma que eu tinha também.

- Caralho, o que tá acontecendo? O que a gente faz agora? – ele perguntou, incrédulo.

- A gente tem que chegar naquele elevador.



Fomos na minha casa e eu emprestei uma farda da escola para ele. Quando chegamos lá, demos de cara com a Anna.

- Anna, você tem que vir aqui comigo. – eu disse.

- Me larga, John. Tá louco?

- Anna, é sério, eu sei sobre a cicatriz que você tem na barriga e nas costas.

Ela olhou para mim com um ar de espanto e disse:

- Você anda me espionando? Seu pervertido!

- Não, eu também tenho essas cicatrizes. – e levantei a camisa.

Ela olhou para a cicatriz, sem acreditar, e então Alex também mostrou a dele.

- O que isso significa? – ela perguntou.

- Significa que a gente precisa conversar.



Achamos uma sala vazia e quando entramos, eu expliquei pra ela que a princípio ela não acreditaria na minha história, e que tudo que eu queria por agora era tentar descobrir se era verdade ou não. Contei o sonho e ela reagiu exatamente como eu esperava:

- John, é só um sonho.

- Eu sei que foi um sonho, mas veja as cicatrizes, são idênticas! Você não vai dizer que acha que é só coincidência, vai?

- Como é seu nome mesmo... Alex? - ela perguntou.

- É. - Alex respondeu.

- O que você acha disso tudo?

- Bom... eu acho, no mínimo, muito estranho. Quero dizer, não faria mal nenhum investigar, sabe?

- Você tem que estar brincando. - ela disse, visivelmente com raiva - Foi só um sonho, não existe isso de apagar a...

- Memória, sei, sei, sei. - eu interrompi - Anna, como o Alex disse, não faz mal nenhum investigar. Você não gostaria de saber se alguém estivesse fazendo algum tipo de atrocidade com você sem que você soubesse? Vai me dizer que você prefere apenas virar as costas pra isso tudo? Se for só um sonho mesmo, pelo menos eu, nós, vamos conseguir deitar nossas cabeças tranquilamente no travesseiro à noite. Se eu, nós, não fizermos isso, duvido que consigamos dormir tranquilamente novamente.

- Tá, suponhamos que seja verdade. Provavelmente o diretor mantém alguns guardas guardando essas pastas. O quê você sugere? - ela perguntou.

- Não tinha pensado nisso... mas a gente tem que dar um jeito. - eu respondi.

- Você ao menos conhece esse lugar?

- Bom... eu conheço o que vi no meu sonho... - respondi, meio sem jeito.

- ÓTIMO! - ela gritou - Simplesmente ótimo! Como diabos nós vamos entrar no lugar se nem sabemos onde é?

- Eu sei como chegar lá, pelo elevador. - eu respondi.

- Igual ao seu sonho?

- Igual ao meu sonho.

Alex, que esteve calado o tempo todo, finalmente se pronunciou:

- Caras, não é querendo ser chato, mas, não podemos deixar o lenga-lenga de lado e ir logo? Se tem alguém realizando testes ilegais em mim eu quero descobrir agora.

- Tudo bem, vamos. - eu disse.

Enquanto íamos, a uma sensação estranha tomava conta de mim. Eu sentia como se não houvesse outra alternativa, a não ser entrar naquele elevador e tentar descobrir a verdade. Era como se uma força mística estivesse me puxando até lá e eu não pudesse fazer nada a respeito. Quando menos esperava, estávamos em frente ao elevador.

- Temos que torcer para que ninguém queira entrar nesse elevador também. - eu disse.

- Então é melhor irmos logo. - respondeu Alex.

- Não acredito que estou fazendo isso. - disse Anna.

Entramos no elevador e eu apertei os botões, segurei-os por 6 segundos e...

Nada.

Nos entreolhamos, desconfiados. E então tentei apertar os botões novamente.

Nada.

E então eu vi o diretor vindo na direção do elevador. Aquela sede de sangue começou a aparecer novamente, mas tive que me controlar.

- O diretor está vindo aí, tenho certeza de que ele vai para lá.

- John, deixe de paranóia. Você mesmo viu que o elevador não desceu, mesmo depois de você ter feito seu vodu.- Anna disse.

- Vamos sair do elevador e observar o que ele vai fazer.

De repente me lembrei do Alex.

- Já sei. Vamos deixar ele ver o Alex.

- O que isso tem a ver? - ele perguntou.

- Se ele esboçar alguma reação estranha por que te viu, existe uma chance de que isso seja verdade. Você não estuda aqui, e se isso tudo for mesmo verdade, ele vai te reconhecer e vai estranhar o fato de você estar aqui.

- Bem pensado, John. Vamos. - ele disse.

Saímos do elevador e começamos a andar na direção dele. Quando passamos por ele, eu disse:

- Bom dia, diretor Stone.

Ele olhou para nós e quando viu o Alex, percebi que seus olhos se arregalaram por uma fração de segundo.

- Bom dia, garotos. - disse, e continuou indo em direção ao elevador.

- Ele arregalou os olhos quando te viu! - sussurrei para Alex.

- John, é só sua imaginação.

- Não, temos que dar um jeito de ver que botão ele vai apertar. - eu disse.

- Deixa comigo. - disse Alex.

Ele correu em direção ao bebedouro que ficava do lado do elevador, bebeu água e pegou o celular. Parecia que ele estava atentendo uma ligação, meio de costas para o elevador, e então a porta se fechou. Ele começou a mexer no celular, deu uma risada e voltou correndo.

- Pronto, consegui.

- Mas o que... - comecei a perguntar, mas ele nem me deixou terminar.

No celular dele estava passando um vídeo onde o diretor apertava os botões do elevador, mas soltava o do meio e segurava os outros por seis segundos. Tudo isso olhando de soslaio para Alex.



- Preparados? - perguntei.

- Sim!- disse Alex.

- Ainda não acredito que estou fazendo isso. - disse Anna.

Apertei os botões, soltei o do meio e segurei-os por seis segundos, exatamente como o diretor havia feito no vídeo. E então as portas se fecharam e o elevador começou a descer.



Quando as portas se abriram, vi uma sala exatamente igual à que apareceu no meu sonho. A única diferença é que a única pessoa que estava na sala, era o diretor. E ele olhava para nós, perplexo.

- Então vocês lembraram. - ele disse.

- Na verdade não. - eu respondi, tentando controlar a sede de sangue que tomava conta de mim - Eu... recebi uma dica.

- E quem te deu essa dica? Seu pai?

- Meu pai? O que ele tem a ver com isso? - perguntei.

Ele simplesmente deu uma risada, pegou um controle e apertou um botão. No telão, apareceram imagens dos testes. E meu pai fazia esses testes.



- Vejo que não foi seu pai que disse.- o diretor falou.

- Mas o que... - eu não consegui terminar a frase.

- Seu pai, Keane, é um gênio da neurociência. Ele me ajudou a descobrir o processo de drenagem de memória que implatamos no projeto. O projeto consiste em...

Eu não conseguia mais prestar atenção em nada. Meu pai, por trás daquela loucura toda? Meu pai era simplesmente um Chef de cozinha! Como ele poderia ser um gênio da neurociência? O que levou ele a fazer essa aliança maluca com esse lunático? Que ideais o levaram a fazer testes no seu próprio filho e nos amigos dele? Eu não conseguia mais aguentar isso tudo.

- CHEGA!!! - gritei.

Todos me olharam assustados.

- Pára essa porra de vídeo.

- Você não está em posição para...

Antes que ele pudesse terminar a frase, voei pra cima dele e o acertei na orelha direita, fazendo ele cambalear.

- Pára esse caralho de vídeo agora ou quebro seu pescoço! - a sede de sangue estava quase incontrolável.

Ele parou o vídeo e deu uma risadinha.

- Qual é a graça? - perguntei.

- Essa vontade de me matar que você está sentindo... eu implantei ela em você.

- O quê? - perguntei.

- Este era o objetivo do projeto, tentar "programar" a mente humana. Seu pai, Keane, era um neurocientista de fama mundial antes de você nascer. Mas um experimento dele saiu errado, custando a vida de alguns membros da equipe dele. Ele teve que fugir e mudar de identidade juntamente com sua mãe e você, que ainda era um bebê. O nome verdadeiro dele é Daniel Hopkins. O seu, é John Hopkins.

- Daniel Hopkins? Aquele cientista louco procurado por assassinato? - perguntei, incrédulo.

- O único. Eu descobri quando ele veio te matricular nesta escola. Acompanhei o caso dele de perto e o reconheci no momento em que ele entrou na escola. No início ele pensou que eu o denunciaria, mas eu não poderia perder a chance de adicionar uma mente daquele porte ao projeto.

- Em que consiste esse projeto? - Anna perguntou.

- Como falei anteriormente, nosso intuito é descobrir um jeito de programar a mente humana. Assim poderemos inibir personalidades psicopatas, entre outras coisas. Você, Keane, têm sido gradativamente transformado num psicopata, para que depois possamos inibir esta característica. Você, Watts, nós estamos programando você para não tolerar nenhum tipo de violência. E você, Wyvern, você é a fase final do projeto.

- Eu? - Alex perguntou, espantado.

- Sim. Nós estamos elevando seu QI. Queremos que você vire o presidente dos Estados Unidos. Mas quem vai governar de verdade, sou eu. Você vai ser a fachada. Você nunca se perguntou por que matava as charadas dos jogos de forma tão rápida? Agora me responda, Keane, quem te deu essa dica?

- Foi um sonho que eu tive. Sonhei com esta mesma sala, com eles dois, com meu pai, e com um bando de terroristas que queria fazer você pagar pelos seus crimes. No final, o terrorista era você.

- Interessante... então seu subconsciente se manifetou para te mostrar a verdade. Mostrou até detalhes, como seu pai e eles dois. Esse grupo terrorista... Você se lembra deles?

- Lembro dos nomes de alguns... Michael Sanders, Luciana, James...

- Acredito que eu tenha subestimado seu subconsciente, então. Michael Sanders, Luciana Fishman, James Black, Steve Bennet, Harry Kingston, Walter McDevon, Juarez Cordova, Stuart Harris e Harold Fox foram os nove que antecederam vocês.

- Nove? - perguntou Anna.

- Nove... eram nove terroristas no meu sonho. - eu disse.

- Exatamente, parece que seu subconsciente lhe deu todos os detalhes da história.

- No meu sonho, mencionaram algo sobre eu ser o número dez. Tem algo a ver com isso? - perguntei.

- Tem sim. Significa que você foi o décimo objeto de testes. - ele respondeu.

- Qual o número deles dois?

- Watts é o número onze e Wyvern é o doze.

- E o que aconteceu aos outros? - Anna perguntou.

- Eles... meu Deus, eles morreram. - Alex disse.



- Alguns sacrifícios precisam ser feitos para o bem da ciência, não concordam? - ele disse.

- Você matou pessoas pelo "bem" da ciência? - Anna chorava de raiva.

- Milhares de pessoas já morreram pelo bem da ciência. Este mundo em que vivemos é praticamente construido sobre os cadáveres destas pessoas. É um sacrifício necessário. Tentem enxergar a beleza deste projeto, crianças. Com isso, nós poderemos revolucionar o mundo da neurociência, poderemos até acabar com guerras!

- Ou começá-las. - Anna disse.

- Este não é o espírito, srta. Watts.

- Você quer que eu aceite essa desculpa esfarrapada pelo assassinato destas pessoas? E se nós acabássemos morrendo também? - eu estava a ponto de explodir.

- A morte de vocês não seria em vão. Você, Keane, com toda esta vontade de matar, deveria me entender.

Era isso. Eu não consegui mais segurar.

Perto de nós havia uma bandeja com ferramentas médicas. Peguei um bisturi e comecei a golpeá-lo na barriga. Anna se desesperou e tentou me impedir, mas Alex a segurou e disse que era para me deixar, ou ela acabaria se machucando. Ela lutava desesperadamente para se soltar dele, mas ele era mais forte. Por fim, cortei a garganta dele. Mas antes de cortá-la ele me disse as palavras que nunca mais vou esquecer:

- Não contava com a possibilidade de Wyvern deixar você me atacar, Keane. Mas você vê a beleza da coisa agora? Você está fazendo exatamente o que eu queria que você fizesse, o que eu programei você para fazer. O projeto deu certo, e mesmo não estando aqui para ver, eu venci, e os membros do projeto que ainda vivem continuarão o meu legado. Este mundo um dia conhecerá o trabalho de Howard Stone.

E, enquanto Anna gritava desesperadamente para que eu parasse, eu acabei com a vida dele.



Anna e Alex estão juntos, hoje. Alex ganhou uma bolsa em Yale e Anna cursa ciências sociais na mesma universidade que ele. Ela quer se tornar uma diplomata. Acho que deve ser por causa da merda que o Stone fez com a cabeça dela, agora ela quer acabar com todas as guerras. Alex com certeza vai virar presidente, mas ele vai governar por ele mesmo, e não pelos outros. O que é uma coisa boa, fico feliz por eles dois. Já eu...

Tenho mantido contato com Alex, embora Anna não saiba. Depois do que fiz ao Stone ela disse que só não me entregaria às autoridades porque Stone era um lunático e acabaria nos matando. Acho que deve haver alguma falha no que fizeram a ela, pois se ela tivesse todo aquele senso de justiça que o Stone falou, com certeza ela me colocaria atrás das grades. Depois do que aconteceu na sala do Stone vi que não conseguiria mais parar essa vontade de matar que tenho. Então decidi usar ela contra seus próprios criadores e comecei a caçar os membros do projeto um a um. Não foi fácil, mas pouco a pouco, consegui achá-los e dar um fim neles. E por fim estou aqui, com o último membro do projeto amarrado e amordaçado na minha frente. E por tudo que vocês me fizeram passar, eu vou dar o troco agora. Vê estas ferramentas de tortura? Cada uma delas vai ser usada vagarosamente em você. E não ache que no final eu vou te matar. Vou cuidar dos seus ferimentos para depois continuarmos com a diversão. É bom você estar preparado, pai. Vamos começar?
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Espero que tenham gostado. =p
Pretendo escrever mais algumas histórias com o John, e já tenho algumas idéias. Assim que escrever uma posto aqui.

sábado, 24 de abril de 2010

Despertar - parte 2

Existe um segundo, que parece que nunca vai acabar, entre você perceber que algo de ruim aconteceu e você tomar sua primeira atitude. Eu costumo chamar este segundo de "eternidade instantânea". Você fica parado, sem saber o que fazer, sua mente trabalhando a mil, seu corpo não responde, várias possibilidades de futuro se estendem à sua frente neste mísero segundo. Por mais rápido que seja, dá tempo de você visualizar cada uma destas possibilidades detalhadamente, mas todas o assustam. Você decide ficar ali para sempre, sem fazer nada, para que nenhum desses futuros tão assustadores tenha que acontecer. Mas o tempo passa, e com ele, o futuro que tanto o assusta inevitavelmente chega.



- NÃO!!! – gritei, e comecei a correr em direção a ele.

Enquanto eu corria os tiros passavam por mim, e, embora eu não tivesse sentido na hora, um raspou minha perna direita.

- Alex, não, não, não, não! – na hora, eu não sabia o que pensar.

- Você é o próximo, seu filhinho da puta! Acabei de matar seu namorado e agora vou acabar com você!

- Isso não tá acontecendo, é um sonho, só pode ser um sonho. – eu dizia.

- Tá preparado pra morrer? É bom estar, porque sua morte vai ser bem lenta!

- Não, não, não, não, não...

- Tô indo, é bom começar a rezar! - gritava o terrorista.

- ...não, não, não, não, não...

- Tô chegando aí, heim?

- ...não, não, não, não, não...

- Você se acha o herói, não é? Agora não passa de uma porra de uma criancinha chorona!

- ...não, não, não, não, não...

E de repente, senti algo tocar a parte de trás da minha cabeça e uma voz falar atrás de mim:

- Eu te avisei que iria te matar, você tá preparado?

- ...não, não, não, não, não...

Clic.

Clic-clic.

Clic- clic- clic- clic- clic- clic- clic- clic- clic- clic- clic…

- Isso não pode ser verdade. – ele disse.

- EU VOU ESTRAÇALHAR VOCÊ SEU FILHO DA PUTA!!!! – e então parti pra cima dele.

Comecei a bater a cabeça dele na parede enquanto gritava de ódio. Depois a coloquei na soleira da porta e a bati inúmeras vezes. Por fim, peguei o canivete que estava com Alex e cortei sua garganta. O sangue jorrava no meu rosto e na minha camisa e eu não me importava. O que importava é que eu havia deixado Alex morrer. Como eu diria para todos que havia deixado isso acontecer? Como conseguiria viver com isso na minha consciência? E agora que eu havia soltado toda a minha raiva nesse cara, percebi que uma sede de sangue estava tomando conta de mim.



Havia um monstro dentro de mim. O tempo todo ele esteve ali, esperando a oportunidade de aparecer, e agora, quando parece que eu estou lutando pelo que é certo, percebo que só estou satisfazendo a sede de sangue deste monstro que habita minha mente. Durante todo este dia, eu vinha dizendo para mim mesmo que estava matando estas pessoas somente por uma questão de sobrevivência, para proteger a mim e aos outros. Mas, depois de realmente soltar a minha raiva, vi que não era isso. Eu estava matando aquelas pessoas porque queria, e, aparentemente, porque gostava. Eu acreditava que todas as pessoas mereciam uma segunda chance, meus valores e princípios me diziam que, não importa o que acontecesse, eu nunca cruzaria essa linha entre justiça e vingança. Mas um dia ruim pode levar seus valores e suas crenças por água abaixo. Parece que, no final das contas, eu havia mentido mesmo para a Anna. Eu não pouparia a vida de ninguém.



Quando entrei na sala, completamente sujo de sangue, todos se assustaram. Mas só a Anna percebeu que eu estava sozinho.

- Cadê o Alex?

Silêncio.

- Cadê o Alex?

Silêncio.

- Merda, responde, cadê o Alex? – ela já havia percebido o que aconteceu, mas não queria acreditar.

- Eu não consegui protegê-lo.

O silêncio reinou na sala, para logo depois ser quebrado pelo choro de todos. Mas Anna não estava chorando. Ela era a única que não estava chorando.

- Me desculpem, eu...

- Não foi culpa sua. – ela disse.

- O quê? Anna, ele tentou...

- Calado! Eu estou dizendo que a culpa não foi sua! O que aconteceu com a pessoa que matou ele?

- Eu... eu o matei. – eu respondi olhando para o chão.

- Não havia outro jeito?

Havia. Ele estava sem munição, eu podia tê-lo golpeado na cabeça e trazido ele para a sala, para que ficassem de olho nele.

- Não.

- Tudo bem. Mas, de agora em diante, ninguém mais morre nessa escola, entendeu? Eu não quero que você suje mais suas mãos de sangue.

- Mas e se...

- Sem mas! Não importa o que aconteça, você vai dar um jeito de contornar a situação sem ter que matar, entendeu?

- Anna...

- Chega!!! Se alguém mais morrer aqui, eu não vou agüentar!

- Tá, tudo bem, calma. Eu não vou matar mais ninguém.

Essa era a segunda vez que eu mentia para ela naquele dia.



Como ela consegue? Mataram um amigo e ela quer que eu não mate mais ninguém? Como ela consegue fazer isso? Que senso de justiça forte é esse? Eu acreditava nos mesmos valores, mas foi só a barra pesar que eu joguei tudo pro alto e me entreguei à raiva. Mas ela não. Ela se mantém fiel aos seus princípios até diante da morte iminente. Como ela consegue ser tão forte? Pensando bem... será que ela é a forte aqui? Ou ela é a mais fraca? Ela não quer que eu mate porque acredita nos seus valores ou simplesmente porque não é forte o suficiente para sobreviver num campo de batalha? Eu estou fazendo o que posso, mesmo que pelas razões erradas, para proteger estas pessoas. Se ela estivesse no meu lugar, o que faria? Ela tentaria contornar a situação poupando a vida de todos ou jogaria a toalha ao menor sinal de perigo? O que é força? É você se manter fiel aos seus princípios, mesmo na pior das situações, ou estar disposto a traí-los se for preciso?



Eu precisava chegar naquele elevador. Agora, só restavam três armados e um, aparentemente, desarmado. Eu precisava de um deles vivo para me mostrar qual era o segredo daquele elevador. Já estava anoitecendo, a escola estava parecendo um cenário de filme de terror. E onde estava a polícia? Porque eu ainda não havia ouvido uma sirene? Certamente os vizinhos ouviram o barulho de tiros, então por que ninguém acionou as autoridades? Mas se eu tinha um telefone, eu poderia ter feito isso. Foi então que uma idéia passou pela minha cabeça, e se esta idéia fosse verdade, poderia mudar o curso de tudo que estava acontecendo. Haviam maneiras de eu verificar se era verdade, mas se fosse, eu nunca saberia o que havia naquele elevador. E eu precisava saber o que havia lá, então, decidi seguir em frente.



Eu podia ver o elevador alguns metros à frente, e não havia sinal de vida por perto. Mas eu precisava de um deles para descobrir o segredo daquele maldito elevador. Foi então que tive uma idéia. Esta idéia poderia pôr tudo a perder, mas eu não tinha muita escolha. Peguei a pistola e atirei na parede.

O que aconteceu não era exatamente o que eu esperava, mas já era alguma coisa. O elevador começou a funcionar. Me escondi na sala mais próxima e esperei até a porta do elevador abrir. Lá dentro estavam dois homens armados e com lanternas. Um deles saiu e o outro ficou na porta do elevador, de guarda. Para minha sorte, o que ficou na frente do elevador estava na minha mira e não conseguia me ver. Quando o outro se afastou, tratei de eliminar o guarda. O outro se virou e voltou correndo. Quando chegou perto do que eu havia matado, saí da sala e o rendi, colocando a arma nas suas costas.

- Largue a arma. – eu disse.

- Alguém chamou a polícia? – ele perguntou.

- Não estou nem perto de ser policial. Agora chega de blá blá blá. Largue a arma ou morre.

- Tudo bem. – ele disse, e soltou a arma no chão.

- Agora chute a arma para longe.

Ele obedeceu.

- Entre no elevador.

- Pra quê?

- Vou contar até três. Entre no elevador.

Ele obedeceu novamente. Dentro do elevador, eu o mantive sob minha mira e perguntei:

- Agora me conte, qual o segredo deste elevador? Por que todo esse estardalhaço só para chegar aqui?

- Não sei do que está falando. – ele respondeu.

Bati nele com a arma e disse:

- A tal da Luciana, que estava com o James, me disse que vocês pretendiam chegar aqui. Sei que tem algo a ver com o diretor e os crimes que ele cometeu. Ela também disse que este elevador é a única maneira de chegar no lugar onde estão guardadas as provas destes crimes. O que você me diz?

Ele pensou por um tempo e finalmente respondeu:

- Tudo bem, garoto. Me deixe olhar para você.

- E por que eu faria isso? - perguntei.

- Você pode continuar apontando a arma para mim, só quero olhar pra você.

- Não vá tentar nada engraçado. – eu disse, e me afastei para que ele pudesse se virar.

Ele se virou, e quando viu meu rosto, uma expressão de surpresa tomou conta dele.

- Então é você que está nos causando tantos problemas.

- Você me conhece?- perguntei.

- Claro, John.

- Como você sabe meu nome?

- Você se chama John Keane, tem 17 anos, mora com seus pais, Roger e Susan Keane, na rua St. Peter, que fica a 15km daqui. É filho único, gosta de jogar baseball, sair com os amigos, não tem namorada e às vezes sente como se tivesse esquecido de algo muito importante, algo que você não poderia esquecer.

Ninguém sabia sobre meus esquecimentos, como esse cara poderia saber?

- Quem é você? – perguntei, com o dedo tremendo no gatilho.

- Olha, depois que você ver o que nós viemos buscar, vamos ficar do mesmo lado, acredite.

- O que está acontecendo?

- Só não atira em mim que tudo vai ser esclarecido para você.

Então, lentamente, ele aproximou a mão dos botões do elevador, apertou todos ao mesmo tempo e os segurou por um tempo. E então o elevador, que estava no térreo, começou a descer.



- Para onde está me levando?

- Tudo que te disseram era verdade. O diretor dessa escola esconde algo que poderia levá-lo à pena de morte. Estamos aqui para revelar a verdade sobre ele para o mundo e fazer justiça.

- O quê ele esconde? – meu dedo tremia como nunca.

- Já estamos chegando, então você vai ver com seus próprios olhos. - ele disse, e então se encostou na parede do elevador.

Vinte segundos depois, o elevador parou e a porta se abriu. Estávamos numa espécie de laboratório subterrâneo, com algumas macas, ferramentas médicas, algumas gaiolas vazias e um computador. A sala era a prova de som, também. Na parede ao fundo, havia também um telão. Em cima de uma mesa, no meio da sala, haviam algumas pastas.

- Meu nome é Michael, Michael Sanders. – ele disse, saindo do elevador – Você tem que entender que o que vou te mostrar agora, John, pode não ser compreendido logo de cara. Pode ser que você precise de um tempo para assimilar tudo, e pode ser que você até lembre de algumas coisas. Tudo está guardado no seu subconsciente, mas, como já sabemos, você não consegue se lembrar.

- Do que está falando?

- Rapazes, este é o John, o número dez.

Haviam 2 pessoas perto da mesa, um armado e outro não. O que não estava armado era aquele que Luciana havia mencionado. Eles olhavam para mim aparentemente sem se importar se eu estava armado ou não.

- John, pode abaixar a arma, a partir de agora estamos do mesmo lado. - disse Michael, caminhando para a mesa.

- Por que eu estaria do lado de vocês?

- Por causa disto. – ele disse, pegando uma das pastas e a jogando para mim. Meu nome estava escrito nela.

Abaixei a arma, olhando a reação deles, e eles continuaram olhando calmamente para mim. Quando abri a pasta havia uma ficha sobre mim, com nome, idade, sexo, endereço, peso, altura, praticamente tudo sobre mim. Tinha até a data do meu primeiro beijo e o nome da garota.

- Eu não entendo, o que é isso tudo?

- Vire a página. – respondeu Michael.

Na página seguinte havia um perfil psicológico traçado sobre mim.

- John, como todos, você deve ter conhecimento que o Ilustríssimo diretor desta escola, Dr. Howard Stone, é um psicólogo renomado. Bom, há alguns anos, ele conseguiu descobrir uma maneira de apagar a memória das pessoas sem usar nenhum equipamento especial, através da hipnose. Claro que ele nunca tornou este conhecimento público. Desde então, ele vem usando isso para fazer testes em cobaias humanas, apagando a memória delas depois. Esses testes são ilegais, e muitas vezes cruéis e dolorosos. Ele não escolhe estas cobaias ao acaso. Traça o perfil dos potenciais “pacientes” e escolhe apenas os mais propensos a “colaborarem” para o processo. Você, John, é uma das cobaias.



- Isso não pode ser verdade. - eu disse, incrédulo.

- Não só você, John. Sua amiga, Anna Watts e seu amigo, Alexander Wyvern também. Vire a página. Mas entenda que essa próxima página pode perturbar você mais ainda.

Quando virei a página, havia uma série de fotos de testes e cirurgias sendo realizadas em mim. Cada uma das cicatrizes que me diziam que eu tinha adquirido quando era criança, em jogos e outras coisas, estava sendo feita na minha frente, naquelas fotos. Eu podia sentir a dor que deveria estar sentindo no momento em que aquelas fotos foram tiradas, como se as cicatrizes estivessem sendo feitas naquele exato momento. De repente, as lembranças começaram a voltar, e a cada foto que eu via, recordava daquele momento, a dor, a angústia, a vontade de que ele me matasse logo para que eu parasse de sofrer. A cada foto que passava, uma nova dor ia surgindo no meu corpo, parecia que as cicatrizes estavam se abrindo, parecia que eu estava vivenciando cada foto daquela naquele momento, e que aquilo iria durar para sempre. Então, percebi que eu tinha uma saída. Levei a arma até a minha cabeça e puxei o gatilho.
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Calma, jovens padawans, esta não é a última parte. Você poderá acompanhar o final desta história próxima semana, neste mesmo bat-horário e neste mesmo bat-blog.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Despertar - parte 1

Sabe aquela sensação de que há algo errado? Desde que acordei aconteceram coisas estranhas ao meu redor. Primeiro, quando cheguei na escola meu pai estava lá. Por que ele não tinha ido trabalhar? Não sei de nenhuma reunião, não recebi nenhuma notificação para entregar a ele, então por que diabos ele estava na entrada da escola sem fazer nada? E por que, na hora, eu achei isto a coisa mais normal do mundo?

Logo em seguida, alguns caras chegaram na escola pedindo armas e querendo entrar. Os funcionários disseram que eles não entrariam. Eu, querendo evitar uma confusão maior, entrei na escola e fui direto para a minha sala. No caminho notei que as pessoas estavam meio agitadas, mas, pelo que sei, elas ainda não sabiam dos caras querendo entrar na escola. E o pior de tudo é que pra mim, na hora, isso pareceu ainda mais normal que meu pai estar lá.

Havia uma moça na entrada da escola. Ela parecia ser mãe de algum aluno e viu quando os caras chegaram. Ficou muito assustada.

Quando cheguei na minha sala, percebi que meu amigo, Alexander, estava lá, com a farda da escola. Mas ele não estuda comigo, estuda em outra escola. E por que tudo isso está parecendo tão normal pra mim? Conversamos um pouco, e logo depois alguém passou dizendo que um dos caras havia conseguido entrar na escola. Fiquei meio receoso, mas não entrei na sala. Grande erro meu. Ou acerto, dependendo do ponto de vista.

- Você gosta de canivetes? – era aquela mãe que estava na porta da escola.

Obviamente esta era uma pergunta estranha, mas, no momento, me pareceu perfeitamente normal.

- Gosto – respondi, achando que ela ia me dar um para eu me defender, caso precisasse.

Então ela puxou um canivete, apontou para mim e disse:

- Nos leve até o elevador da escola agora.

Então um dos caras que estava tentando invadir a escola surgiu armado, e com um refém.

Meu pai.



Alex entrou em pânico, mas conseguiu não demonstrar isso. Percebi por que somos amigos há anos.

Então, do nada, eu tinha um plano.

Segurei a mão da mulher e puxei o canivete. O cara disse:

- O que pensa que está fazendo, moleque? Eu vou atirar neste cara.

Meu pai, inteligentemente, ficou calado. Se o cara descobrisse que eu era filho dele, a situação poderia piorar.

- O quê você acha que as pessoas vão pensar se ela aparecer no meio da escola com um canivete na mão? – eu disse.

- Devolva o canivete a ela.

- Não, eu conheço esse tipo de gente. Ela está assustada e vai continuar apontando o canivete para mim. E você, esconda essa arma, senão nunca vamos conseguir chegar ao elevador.

Ele parou para pensar um pouco, e então começou a guardar a arma. Mas no meio do caminho, parou.

- Por que você não está guardando o canivete também? – ele perguntou.

- Não preciso, posso escondê-lo com a mão.

- Já sei o que você está tentando fazer, quer que eu guarde a arma para tentar me atacar não é?

Neste momento, ele gesticulou algo com a mão e acabou tirando a arma da mira. Era o que eu precisava.

- Parece que você conseguiu ler minha mente. –disse, atirando o canivete no olho dele.

Ele tombou para trás e meu pai veio até mim.

- Você. - eu disse para a mulher – Quieta ou vai ter o mesmo destino dele.

Tirei o canivete do olho do cara, peguei a arma e disse:

- Alex, me ajude a carregar o corpo para a sala.

Ele me ajudou sem questionar. Apontei a arma para a mulher e disse:

- Você, venha também.

Ela não se mexeu, então a empurrei para dentro da sala. Lá dentro, meus colegas olhavam assustados.

- Galera! – eu disse - Esses dois são os caras maus. Esse aqui está morto, então não se preocupem. Quero que vocês fiquem de olho nesta vagabunda, e se ela tentar algo engraçado podem furá-la até ela virar uma peneira. – completei, entregando o canivete para Alex.

Ele pegou o canivete e fez que sim com a cabeça.

- Ninguém, eu disse, ninguém sai dessa sala, entenderam? – o silêncio me fez entender que sim. Me virei para a mulher e perguntei – Os outros caras, estão armados?

Ela não respondeu. Peguei a mão dela e quebrei dois dedos.

- Os outros caras, estão armados? É melhor você responder ou vai acabar perdendo a mão.

- S-sim! – Ela respondeu.

- Assim é melhor. Quantos caras e quantas armas cada um deles tem?

- Seis pessoas, cada um com uma arma.

- Pense direito, pois eu estou com muita vontade de arrancar uma mão sua e fazer você comê-la.

- S-sete pessoas, mas um deles está desarmado. Está disfarçado de estudante.

- Como esse cara é?

- Alto, negro, cabelo raspado, muito magro.

- Certo. – disse eu, por fim – Se alguém suspeito tentar entrar na sala, dêem um toque no meu celular que eu volto. Todos deixem o celular no modo vibratório e evitem fazer barulho. Apaguem as luzes, fechem as janelas e tranquem a porta. Se eu voltar para a sala vou ligar para o celular do Alex ao invés de bater, então, se alguém bater na porta, sejam cuidadosos. Pai, faça com que todos eles sigam as ordens.

- Certo. – ele respondeu.

- E você vai fazer o quê? – Anna, uma colega, perguntou.

- Eu vou acabar com essa merda toda.



Quando saí da sala, o colégio estava deserto. Isso significava que eu precisaria ser mais cuidadoso ainda, visto que não poderia circular no meio dos estudantes. O corredor estava vazio, então, com a arma em punho, caminhei até o final dele. A mulher disse que queria chegar até o elevador da escola, então poderia encontrar o resto deles lá. Continuei caminhando, parando em cada esquina dos corredores para olhar ao redor. Não havia uma alma viva à vista na escola. Isso tudo estava muito estranho, e eu finalmente comecei a perceber isso. O fato de achar tudo que estava acontecendo normal, me deixou mais desconfiado ainda. Então as perguntas começaram a surgir na minha cabeça. Primeiro, se esses caras queriam invadir a escola, por que não o fizeram de um modo mais sutil? Chamando a atenção de todo mundo assim não ajudaria. Segundo, por que eles iriam querer invadir a escola? O que teria lá para eles? E terceiro, por que o elevador? Talvez eu encontrasse as respostas lá.

Fui retirado dos meus pensamentos pelo som de passos. Rapidamente entrei em uma das salas e deixei a porta entreaberta, para que eu pudesse ver se alguém passasse pelo corredor. O som dos passos foi aumentando, e então uma pessoa passou pela porta. Esperei o som dos passos diminuir um pouco e olhei para o lado da sala onde o pessoal estava, e vi alguém indo para aquela direção. Saí da sala furtivamente e comecei a seguir o cara, entrando nos corredores perpendiculares para me esconder. O cara parou na frente da porta da sala e bateu nela. De repente veio o grito de lá de dentro e o cara gritou:

- Luciana? É você?

Então o alvoroço dentro da sala começou. Eu sabia que devia ter matado aquela vagabunda.



O cara sabia que alguém tinha pegado a mulher, então eu precisava agir rápido para evitar que ele alertasse os outros. Entrei num corredor perpendicular para sair num paralelo ao corredor da sala e fui o mais rápido possível, cuidando para não fazer barulho, até o corredor perpendicular que passava por trás da sala. O cara estava na frente da porta, ainda perguntando pela Luciana. De repente ela conseguiu gritar de lá de dentro:

- Mataram o James, um garoto pegou a arma dele e saiu da sala! – e mais barulho de confusão dentro da sala.

- Merda! – sussurrei.

- Vou alertar os outros e já voltamos para te tirar daí. – ele disse, e começou a correr.

- Ah, não vai não. – sussurrei novamente e comecei a correr atrás dele.

Quando estava quase alcançando, ele ouviu meus passos e se virou. A única coisa que eu poderia fazer antes dele atirar em mim era me jogar em cima dele, e foi isso mesmo que fiz. Caímos no chão e as armas voaram pra longe. Eu ia ter que resolver essa no mano-a-mano.



- Você se acha esperto, heim, garoto? – Ele disse, rindo.

- Mais esperto que vocês eu sou. Matei um dos seus, capturei a outra, roubei a arma do morto e consegui te desarmar agora. Só resta chutar sua bunda peluda e pegar os outros. – respondi, e vi a raiva tomar conta dele.

- Moleque insolente, se você soubesse porque estamos aqui nos deixaria passar sem confusão. – ele disse.

- Então por que não me diz?

- Porque não te interessa. – e então ele partiu para cima de mim.

Ele era grande. Me senti como se estivesse lutando contra um boi. Então eu teria que pôr os anos de artes marciais em prática se quisesse ter alguma chance. Desviei dos ataques dele e quanto ele abriu a primeira brecha, acertei-o na orelha direita.

- Puta que pariu! Você é rápido! – ele disse, coçando a orelha.

- Você ainda não viu nada. – eu respondi, enquanto começava a correr na direção dele.

Erro meu. Por acertar o primeiro golpe nele, achei que a luta ia ser fácil, mas ele me segurou e correu na direção da parede, tentando me esmagar. Quando minha cabeça bateu na parede, senti como se ela fosse partir ao meio.

- Cadê o moleque durão que estava aqui há trinta segundos? – ele perguntou, zombando.

Começou a caminhar em direção as armas, pegou as duas e veio em direção a mim.

- Você lutou bravamente, garoto, mas nós temos um propósito aqui e perder não é uma opção. – ele disse, enquanto apontava uma das armas para a minha cabeça.

- Pode me dizer que propósito é esse antes de me matar? – perguntei.

- Tudo bem. O diretor dessa escola passa a imagem de homem honesto, mas ele não é tão honesto assim. Estamos aqui para desmascará-lo.

- E o que o elevador tem a ver com isso?

- Não vai fazer diferença você saber ou não. A...

Antes que ele pudesse terminar de dizer “deus”, uma faca rasgou a garganta dele. Quando ele tombou, vi o Alex atrás, segurando o canivete.

- Parece que você me deve uma. – ele disse, estendendo a mão para me ajudar a levantar.

- Não se preocupe. – eu respondi, segurando a mão dele – no fim de semana a gente sai pra tomar uma por minha conta. Agora vamos levar esse merda para a sala e tentar limpar essa poça de sangue.



Quando chegamos na sala, a mulher viu o corpo e começou a chorar. Larguei o morto, peguei uma das armas que o Alexander havia colocado nos bolsos e fui em direção a ela.

- SUA FILHA DA PUTA!!! – gritei. As pessoas que estavam na sala olharam assustadas. – Eu sabia que devia ter te matado, e vou fazer isso agora!

- Não! – ela choramingou – Você não sabe o que queremos aqui, estamos aqui para fazer justiça!

- Que porra de justiça é essa que faz um bando de crianças de refém? E sabe-se lá o que aconteceu com o resto da escola. E aquela porra de elevador, pra que caralho vocês querem chegar lá?

- É o único meio de chegar à sala onde o diretor esconde as provas dos seus crimes. – ela respondeu.

- Crimes? Que crimes?

- Nos deixe terminar e todo o mundo vai saber o que aquele porco fazia.

- Não posso correr esse risco. – disse. Fui até ela, segurei sua cabeça e falei – Quem nunca viu uma pessoa ser morta antes, é melhor não olhar. – e quebrei o pescoço dela.



- Você não precisava ter feito isso. – Anna disse.

Então notei que todos estavam olhando pra mim assustados. E alguns destes, chorando.

- Eu arrisco minha vida pra proteger vocês e é assim que vocês retribuem? Me julgando?

- Você acabou de quebrar o pescoço daquela mulher na frente de todo mundo! Muita gente não acha agradável ver outra pessoa sendo morta. – Anna olhava pra mim como se eu fosse um monstro.

- Não importa! E se essa vagabunda arrumasse outra confusão pra nós? E se eu não conseguisse fazer nada e todos aqui acabassem morrendo?

- Não é por que eles nos matariam se tivessem a chance que nós devemos nos rebaixar ao nível deles. – percebi a fúria começando a tomar conta dela.

- Eu não estou rebaixando porra nenhuma, só estou evitando que aqueles putos metam uma bala em suas cabeças! É uma questão de sobrevivência, matar ou morrer. Esse colégio virou um campo de batalha, e eu não estou aqui pra perder. Desculpem se eu assustei vocês, mas eu estou fazendo o que é preciso para garantir a segurança de todos aqui. Eu não estou gostando de matar essas pessoas, mas se, para continuar vivo, eu precisar matá-las, eu mato com o maior prazer. O problema das pessoas é que muitas têm um falso moralismo que as impedem de fazer o que é preciso. Eu não penso assim. Se eles estão dispostos a matar para conseguir o que querem, têm de estar dispostos a morrer também, e se eles estão dispostos a morrer, tem que ter alguém do outro lado disposto a matá-los. Existe alguém aqui com colhões o suficiente para fazer isso além de mim e do Alex?

Silêncio.

- Então façam o que eu disse e não fiquem no meu caminho.



Precisei sair da sala por alguns minutos para me acalmar. Deixei uma arma com o Alexander e ele ficou de guarda na sala. Eu estava sentado no banheiro masculino quando meu celular tocou. Era a Anna.

- Se for para me dar um sermão sobre o “Não matarás”, pode poupar sua saliva. – eu disse.

- Não, quero conversar com você. Onde você está?

- No banheiro masculino perto da escada. Se vier para cá, peça pro Alex te escoltar até aqui e quando chegar bata três vezes de leve na quarta porta.

Dois minutos depois ouvi passos no banheiro e três batidas leves na porta. Abri e ela entrou.

- Só queria dizer que depois do que você disse lá na sala, os outros concordaram com você. – ela disse, olhando para o chão.

- Certo, os outros concordam comigo, mas e você?

- Eu não concordo, mas não posso fazer nada. Entendo que você está fazendo isso para nos proteger, mas se existisse outra maneira de resolver isto, uma maneira que não envolvesse mortes, eu preferiria.

- Você sabe que provavelmente isso não vai acontecer, não é? Ou eles morrem, ou nós morremos.

- Sei... odeio admitir, mas sei. Só me prometa que se você puder evitar uma morte, vai tentar não matar. - Ela finalmente olhou para mim.

- Tudo bem, vou tentar. E desculpe pelo que fiz lá, realmente matar aquela mulher na frente de todos foi algo desnecessário.

Então ela me abraçou e começou a chorar.

- Anna? O que foi?

- Eu estou com medo. Só volte vivo, certo?

- Vai ficar tudo bem, não se preocupe.

Eu não queria mentir para ela, mas precisei.



“Vamos encarar os fatos. Tem um bando de terroristas armados na escola. A escola está deserta e eu só sei que eles acham que estão fazendo justiça, e aparentemente essa justiça começa quando eles conseguirem chegar no elevador. Tudo bem, tenho que ir para lá, mas sabe-se lá o que vou encontrar quando chegar. A tal da Luciana disse que ainda restavam 7 caras depois que matei o primeiro. Como o Alex matou mais um depois disso, restam 6. Um deles não está armado, e a esta altura não está mais com a farda do colégio. Restam 5 armados. Eu sou só um garoto de 17 anos com uma arma. Tudo bem que eu matei um deles, mas dei sorte no segundo. E se os outros seis me acharem, todos ao mesmo tempo? Não terei chances. Mas eu estudo aqui há anos, então conheço esse lugar melhor que eles. Posso usar isso a meu favor. É, talvez eu não tenha mentido para a Anna quando disse que tudo ia ficar bem.”

Foi mais ou menos isso que pensei antes de dois deles me cercarem e o tiroteio começar.



Logo depois que saí do banheiro com a Anna, voltei para a sala para me desculpar com o pessoal. Disse que não devia ter matado a mulher na frente deles, mas ela poderia causar mais confusão. Eles aceitaram minhas desculpas e disseram que fariam o que eu mandasse dali para a frente. Eu estava me tornando uma espécie de líder para eles, e não gostava nada da sensação. E se algo saísse errado e todo mundo acabasse morrendo? Eu conseguiria viver com esse peso nas minhas costas se saísse vivo? Essas pessoas estavam dependendo de mim, eles acreditavam e confiavam em mim, e eu precisava estar à altura desta confiança. Precisava fazer de tudo para protegê-los. Mas aquele não era o momento para ficar pensando nessas coisas, era o momento para agir. Tínhamos 2 armas. Deixei uma com o Alex na sala e saí em busca do resto dos “terroristas” com a outra. Foi então que fui cercado.



- Steve, tem um moleque armado aqui! – gritou o primeiro, quando me viu.

- Merda!- sussurrei.

O segundo, que parecia um trator, apareceu por trás armado com uma sub-metralhadora. Eu não acordei preparado para morrer hoje.

- Seu merdinha! Onde estão os outros? Onde você conseguiu essa arma? - gritava o cara chamado Steve.

E então o tiroteio começou. Consegui entrar numa sala e toda vez que eles paravam de atirar eu aparecia e atirava. Mas meu número de balas era bem limitado e eu poderia ficar sem munição a qualquer momento. Peguei o celular e liguei para o Alex.

- Alex, tô cercado.

- Onde você tá?

- Perto do refeitório, na sala de informática. Consegui entrar na sala e tô trocando tiro com eles. São dois, mas minha munição tá acabando. Vasculha os corpos e vê se acha munição extra. Um deles tá armado com uma sub-metralhadora e se você vier pra pelo corredor da coordenadoria, vai pegar ele por trás.

Pode acabar com ele e depois cuidamos do outro.

- Ok, chego aí em um minuto. – ele disse.

- Anda logo que a situação tá ficando feia. – eu falei, encerrando a conversa.

Consegui tirar o pente da arma e constatei que ainda tinha 9 balas. Rezei para que o Alex chegasse antes que elas terminassem e continuei atirando em intervalos regulares. Pouco mais de um minuto depois, escutei um grito e os tiros da sub-metralhadora pararam. A cavalaria havia chegado.

- Steve! Steve, porra, responde! Merda!

De repente alguém entra na sala. Quando me preparo para atirar, a pessoa fala:

- Só consegui mais dois pentes de munição, você fica com um e eu com o outro? Ah, agora temos a sub-metralhadora também.

- Puta merda, Alex! Quase atirei em você!

- Desculpa, cara, só não ia gritar que tava vindo pra cá pra alertar o outro.

- Tá, o que a gente faz agora? – perguntei.

- A gente vai fazer o seguinte: você sai da sala e atravessa o corredor, fazendo barulho, e entra na sala da frente rápido. Eu vou ficar a postos e quando o outro cara aparecer pra atirar eu atiro nele, certo?

- Ok. No três.

- Um, dois, três! – sussurramos em uníssono.

Comecei a correr para o outro lado do corredor pisando com força e escutei:

- Agora eu peguei você, seu viadinho! – e em seguida, um barulho de tiro.

Fiquei esperando a bala entrar nas minhas costas, mas ao invés disso ouvi um baque surdo atrás de mim. Quando virei, Alex jazia no chão, com os olhos abertos e um buraco bem no meio deles.