domingo, 30 de maio de 2010

Lágrimas sinceras

- Pai, por que tá todo mundo chorando?
- Porque o vovô se foi, filho.
- Mas ele não vai voltar?
Jacob tinha apenas 4 anos, ele não entendia o que era morte. Ter que explicar isso para seu filho era um sacrifício para Tom.
- Senta aqui, campeão.
Ele se sentou no colo do pai, com o olhar mais inocente e interessado do mundo.
- Lembra quando o papai explicou pra você como você tinha nascido?
- Lembro.
- Então, as pessoas nascem, ou "vêm" para o mundo, mas elas também morrem, ou "vão embora". Só que esse "ir embora" é para sempre.
- Então o vovô não vai voltar?
- Não, Jake. Dessa vez o vovô não volta.
Jake olhou para as próprias mãos, que estavam repousadas em cima de suas coxas. Um olhar profundamente triste toma conta de seu rosto, e Tom sentiu um nó na garganta.
- Mas eu gostava tanto dele, papai.
- Eu sei, Jake. Todos nós gostávamos. E ainda gostamos, não é? Não é só por que ele se foi que vamos deixar de gostar dele.
- É... acho que sim. Mas para onde ele foi?
- Ele foi pra perto do papai do Céu, filho.
- Ah... mas e se os médicos trouxerem ele de volta?
- Os médicos já fizeram tudo que podiam, Jake. Infelizmente, não há mais nada.
Jake simplesmente abaixou a cabeça e voltou a observar suas mãos.
- E se eu tentasse, papai?
Tom sentiu que ia desabar. Era difícil demais fazer isso. Ele tinha forças para suportar a dor de peder um pai, mas não de ver seu filho passar por isso. Ele abraçou Jake e começou a chorar.
- Pai, o que foi? Me desculpa, não queria fazer o senhor chorar.
- Jake...
Quando se acalmou, ele tentou explicar que não havia mais nada que eles pudessem fazer.
- Filho, o vovô já foi. Eu também queria muito que ele voltasse, mas não vai ser possível.
- Já sei!
Jake se levantou e saiu correndo. Vinte segundos depois ele voltou correndo com o celular do pai nas mãos, sorridente.
- Vamos ligar pra ele, papai! Se eu falar com ele, sei que ele vai querer voltar.
Foi a gota d'água. Tom abraçou Jake com força e voltou a chorar. Por mais que o garoto não entendesse o que estava acontecendo, ele sabia que Jake era quem mais estava sofrendo aquela perda. Depois de algum tempo, ele se recompôs e tentou explicar novamente para Jake o que havia acontecido.
- Filho, onde o vovô está não tem telefone. Não existe nenhuma maneira para falarmos com ele, porque para o lugar onde ele foi, não tem volta.
- É muito longe?
- É o lugar mais longe que existe.
- Então ele foi pro Japão?
- Não, Jake. É mais longe que o Japão.
- Ele tá na lua?
- Também não. É mais longe que qualquer lugar que você possa imaginar.
- Então se ele não vai voltar, eu não vou ganhar presente, certo?
- Certo.
- Poxa... mas eu nem queria presente, só queria que ele voltasse. Só isso já seria o melhor presente do mundo.
Isso era doloroso demais para Tom. Ele precisava acabar com isso.
- Jake, quer se despedir dele?
- Ele tá aqui?
- Mais ou menos. O corpo dele está aqui, mas está dormindo e não vai acordar. Porque a mente dele foi para aquele lugar mais longe que existe, entende?
- Acho que sim... Mas onde ele tá?
- Logo ali, vamos.
Tom segurou na pequena mão de Jake e o conduziu ao caixão. Por mais mórbidos que caixões sejam, ele não podia deixar de reparar na beleza que aquele tinha. Era uma peça muito bem trabalhada em madeira reluzente, com alças adornadas em ouro e as inscrições "Thomas Cross, marido, pai e avô amado. Que proteja sua família e os receba com alegria." na tampa.
- Pai, o que é aquela coisa de madeira?
- Aquilo é um caixão, Jake. É ali que o vovô está.
- Por que?
- Porque é onde as pessoas que estão do mesmo jeito que o vovô ficam. Depois fecham o caixão e colocam naquele buraco no chão.
Explicar essas coisas fez Tom perceber que nunca mais veria o seu pai, que agora tudo que possuía sobre ele eram lembranças.
- Por que?
- Para que ele possa dormir para sempre, já que ele não vai acordar.
- Mas já tentaram jogar água nele?
- Já, filho.
- E dar tapas na cara dele?
- Já.
- Gritaram no ouvido dele?
- Gritaram.
Eles seguiram até o caixão em silêncio. Quando chegaram lá, Tom colocou Jake no colo, para que ele pudesse ver dentro do caixão.
- Oi, vovô.
- Jake, ele não vai...
- Eu sei, papai, ele está dormindo. Mas eu queria dizer oi para ele antes que colocassem ele naquele buraco.
- Pela última vez?
- É.
- Então não quer aproveitar e falar algo pra ele?
- Quero.
- Você quer que eu saia?
- Não, papai. Pode ficar aqui comigo?
- Claro, filho. Não vou te deixar.
Jake deslizou sua pequena mão para dentro da mão do pai e a apertou com força. Ficou calado por um tempo, apenas olhando para o rosto do avô. Tom começou a lembrar de todos os momentos em que viu os dois juntos. Eles estavam sempre sorrindo, brincando, se divertindo. Eles eram felizes juntos.
- Vovô, não sei porque você decidiu ir embora. Eu gostava muito do senhor, você era o melhor avô do mundo. Eu vou sentir falta de todas as vezes que brincamos de bola juntos, que você corria atrás de mim pela casa, tentando me fazer cócegas, de como você nunca me comprava presentes caros, mas que eram os melhores mesmo assim, de como você me protegia sempre que eu tinha medo de algo. Eu sei que o papai pode me proteger, mas vou sentir falta mesmo assim. Se você decidiu ir embora por algo que eu fiz, me desculpe, eu não quis te magoar. Queria muito que você voltasse, vovô, mas o papai me disse que isso é impossível.
Tom estava envolto em lembranças de Jake e Thomas juntos, mas foi tirado dos seus devaneios pelo silêncio. Todos haviam se calado para prestar atenção no que Jake dizia. Jake estava chorando e sua voz tremia.
- Se você decidir voltar, eu vou ficar muito feliz, vovô. Mas se você não voltar, quero que saiba que eu nunca vou esquecer de você e que vou amar o senhor para sempre.
Tom, e todos os presentes no funeral, estavam chorando.
- Eu te amo, vovô.
Jake colocou a mão no seu bolso e retirou algo que Tom não reconheceu a princípio, mas depois de algum esforço lembrou do aniversário de 1 ano do filho, quando Thomas o presenteou com o primeiro carrinho que ele havia construído quando era criança. Aquele carrinho foi o primeiro de uma coleção de mais de cem carrinhos que Thomas construiu ao longo dos anos. Era o mais valioso de todos. Jake o depositou sobre o peito do avô.
- Pai, pode colocar as mâos dele em cima do carrinho?
Jake lutava para não chorar mais.
- Claro, filho.
Ele fez o que o filho havia pedido.
- Quer falar mais alguma coisa?
- Não... posso só dar um beijo nele?
- Claro.
Tom segurou Jake para que ele pudesse beijar o avô dentro do caixão.
- Tchau, vovô.
- Tchau, pai. Vou sentir muito sua falta.
Quando Tom virou para se retirar, percebeu que todos os presentes haviam formado uma fila atrás dele.
- Tom, eu sinto muito. Jake, vai ficar tudo bem. - disse Ed, o primeiro da fila um velho amigo de Thomas.
Jake não respondeu, apenas olhava para baixo. Ed deu um beijo na testa do garoto e se retirou com lágrimas nos olhos. O processo se repetiu até que todos os presentes haviam cumprimentado Tom e Jake. Eles ficaram em silêncio durante um tempo, lembrando dos seus momentos com Thomas. Alguns minutos depois o padre iniciou a cerimônia, e então todos puderam finalmente se despedir do velho e querido Thomas.

Quando a cerimônia havia terminado, Tom e Jake caminhavam para o carro de mãos dadas e Tom percebeu que Jake apertava sua mão com força.
- Tudo bem, filho?
Jake afirmou com a cabeça, mas visivelmente se segurava para não chorar.
- Você quer chorar?
Então Jake abraçou o pai com força e começou a chorar. Um choro sincero de dor e saudade. Tom não conseguiu segurar, abraçou Jake e também derramou algumas lágrimas.
- Eu vou sentir muita falta dele, papai, eu o amava muito.
Jake estava chorando como nunca havia chorado na vida.
- Eu sei, filho, eu também. Mas nós precisamos continuar nossas vidas. Teremos sempre lembranças boas do vovô conosco, mas precisamos seguir em frente.
- E como faremos isso?
- Sendo fortes, filho. Por mim, por você, e pelo vovô. Seja forte.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Despedida

Estou cansado.

Isso resume bem como me sinto.

Depois de tanto tempo fazendo o que faço, é normal que eu esteja assim. Já tive minha cota de decepções nesta existência e, sinceramente, estou cansado.

Podem até falar que estou fazendo drama, e pode até ser verdade, mas o que acontece é que eu já dei chances demais para os outros e, mais importante, para mim mesmo. Todo dia digo para mim mesmo que as coisas vão melhorar, que as pessoas vão parar de me decepcionar, mas é sempre a mesma coisa. Todos só querem saber de subir na vida, de conseguir o que querem sem se importar com o próximo.

Você deve estar pensando que eu estou num daqueles momentos "sou o dono da verdade".

Mas EU SOU o dono da verdade, afinal eu criei este Universo e tudo que ele guarda.

E, depois de todos esses milênios vendo a humanidade jogar sua própria humanidade no ralo, finalmente cansei.

"Não se preocupe, Deus vai te compensar", eles dizem. "Se aconteceu assim, é porque Deus quis", eles falam. Por que tudo tem que ser culpa minha? Por que DIABOS eu tenho que compensar todo mundo? Eu dei pernas para vocês, mas a intenção é que vocês próprios aprendessem a caminhar. Ou a palavra "babá" está escrita na minha testa?

Desculpem, vocês não conseguem ver minha testa. Mas não está, só pra constar.

Agora pare e pense. Quando você tem um filho, você o imagina crescendo feliz, cercado de amigos, estudando e sem se meter em confusão. Quando cresce, arrumando um bom emprego, achando uma boa moça para namorar, entrando na faculdade, se formando, tendo filhos e tendo uma vida boa. Perfeita.

Mas o que realmente acontece é que ele cresce no meio de amigos encrenqueiros que roubam o dinheio do lanche dele. Logo ele começa a fazer isso também. Começa a fumar na adolescência, engravida uma mocinha e não quer assumir o filho. Começa a usar drogas e vender as coisas para puder pagar as dívidas com os traficantes. Depois de adulto começa a cometer crimes e vai preso. E você vê seu querido filho, o qual você tinha tantos planos e depositava tanta esperança ser espancado até a morde dentro de uma cela por um cigarro que ele roubou de outro preso.

Agora imaginem ver 6 bilhões de filhos nesta situação. Isso sem contar o outro que foi assassinado na cruz por tentar fazer a coisa certa.

Estão começando a entender como me sinto?

Bom. Ótimo.

Porque, como já falei diversas vezes, estou cansado.

E assim como eu me tornei, vou deixar de ser.

Agora vocês estão por conta própria.
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Um pedaço de papel com estas palavras foi encontrado no local onde supostamente Jesus foi crucificado, escrito em 13 idiomas. Duas semanas após o encontro, vários terremotos deixaram a América do Sul em alerta, e pouco tempo depois uma nuvem de cinzas gigante trouxe o caos para a Europa. Religiosos afirmam que este é o começo do fim.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Despertar - Final

E então, eu estava no meu quarto, deitado na cama, suando e olhando para o teto. Eu ainda não estava conseguindo raciocinar direito. Depois de um tempo, percebi que tudo havia sido um sonho. Essa era justamente a idéia que tinha cruzado minha mente quando cheguei perto do elevador, mas se eu fosse verificar se era um sonho ou não, poderia acabar acordando e nunca chegaria à raiz do problema. Olhei para as minhas cicatrizes, que eu realmente havia ganhado em jogos e comecei a rir. Que peça minha mente havia me pregado.

Tomei uma ducha, rindo da minha própria cara, e me arrumei para ir para a escola. Por mais que tivesse sido um sonho, pareceu real. Eu ainda podia sentir umas pontadas de dor em algumas cicatrizes. E parando para pensar... aquele diretor não me parecia muito confiável. Não, é só minha imaginação se empolgando com esse sonho maluco que tive.

Fui para a escola e quando cheguei lá vi que meu pai não estava lá, o que era realmente normal, Alex não estudava lá, o que era normal também, não havia nenhum grupo querendo invadir a escola, o que também era normal, e a Anna simplesmente me ignorou, o que era mais normal ainda. Mas então por que eu estava tão inquieto?

Assisti a primeira aula sem prestar muita atenção, lembrando do sonho. Lembrando da facilidade com que eu matava aquelas pessoas. Lembrando do quanto Anna me pedia para não matar, de como eu não sabia se ela estava sendo forte, ou fraca. Lembrando da sede de sangue que tomava conta de mim a cada minuto que passava.

E então percebi que essa sede de sangue estava se manifestando de verdade. Eu queria entrar num campo de batalha, eu queria tirar a vida das pessoas. E então lembrei do Alex morrendo no meu sonho. Eu tinha que falar com ele. Saí da sala e liguei para ele:

- Alex? É o John.

- E aí, John, tudo bem?

- Na verdade, não. Preciso conversar com você, você pode sair da aula?

- Deu sorte, não estou na aula. Aparece aqui em casa.

- Tudo bem.

Então peguei minha mochila e fui pra casa do Alex, sem saber a surpresa que teria quando chegasse lá.



- Eu tive um sonho esta noite, cara. Um sonho muito estranho.

- Conta.

Alex, como sempre, estava jogando vídeo-game. Ele já tinha zerado praticamente todos os jogos que já haviam sido lançados na história da humanidade, e já sabia o que aconteceria nas sequências que nem haviam sido lançadas ainda.

- Você estudava na minha escola, e um dia um grupo armado tentou invadir a escola. Nós conseguimos matar alguns deles, roubar suas armas e tal. Eles diziam que queria chegar no elevador da escola, algo a ver com o diretor e os crimes que ele cometia. No meio do fogo cruzado você foi morto e...

- Porra, eu morri? Você não conseguiu nem me salvar?

- Cala a boca e me escuta. Quando cheguei no elevador um dos caras me levou pro subsolo e lá disse que o diretor da escola sabia apagar a memória das pessoas, e então ele fazia testes ilegais nelas e depois apagava a memória. E que eu, você e uma garota de lá da sala éramos cobaias.

- O quê você fumou ontem?

- O pior é que eu vi umas fotos, no sonho, dos testes que eles faziam comigo, e cada um desses testes deixava uma cicatriz, que eram exatamente iguais as que tenho. – neste momento, levantei a camisa e mostrei uma cicatriz que eu tinha na barriga.

E então Alex também levantou sua camisa e eu vi que ele tinha uma igual.



- Cê tá me zoando, cara. – ele disse, rindo.

- Alex, que porra é essa? A gente tem a mesma cicatriz!

- Eu to vendo, mas deve ser a única. Quero dizer, você não deve ter uma dessas também. – E mostrou uma cicatriz nas costas. Exatamente igual a uma que eu tinha também.

- Caralho, o que tá acontecendo? O que a gente faz agora? – ele perguntou, incrédulo.

- A gente tem que chegar naquele elevador.



Fomos na minha casa e eu emprestei uma farda da escola para ele. Quando chegamos lá, demos de cara com a Anna.

- Anna, você tem que vir aqui comigo. – eu disse.

- Me larga, John. Tá louco?

- Anna, é sério, eu sei sobre a cicatriz que você tem na barriga e nas costas.

Ela olhou para mim com um ar de espanto e disse:

- Você anda me espionando? Seu pervertido!

- Não, eu também tenho essas cicatrizes. – e levantei a camisa.

Ela olhou para a cicatriz, sem acreditar, e então Alex também mostrou a dele.

- O que isso significa? – ela perguntou.

- Significa que a gente precisa conversar.



Achamos uma sala vazia e quando entramos, eu expliquei pra ela que a princípio ela não acreditaria na minha história, e que tudo que eu queria por agora era tentar descobrir se era verdade ou não. Contei o sonho e ela reagiu exatamente como eu esperava:

- John, é só um sonho.

- Eu sei que foi um sonho, mas veja as cicatrizes, são idênticas! Você não vai dizer que acha que é só coincidência, vai?

- Como é seu nome mesmo... Alex? - ela perguntou.

- É. - Alex respondeu.

- O que você acha disso tudo?

- Bom... eu acho, no mínimo, muito estranho. Quero dizer, não faria mal nenhum investigar, sabe?

- Você tem que estar brincando. - ela disse, visivelmente com raiva - Foi só um sonho, não existe isso de apagar a...

- Memória, sei, sei, sei. - eu interrompi - Anna, como o Alex disse, não faz mal nenhum investigar. Você não gostaria de saber se alguém estivesse fazendo algum tipo de atrocidade com você sem que você soubesse? Vai me dizer que você prefere apenas virar as costas pra isso tudo? Se for só um sonho mesmo, pelo menos eu, nós, vamos conseguir deitar nossas cabeças tranquilamente no travesseiro à noite. Se eu, nós, não fizermos isso, duvido que consigamos dormir tranquilamente novamente.

- Tá, suponhamos que seja verdade. Provavelmente o diretor mantém alguns guardas guardando essas pastas. O quê você sugere? - ela perguntou.

- Não tinha pensado nisso... mas a gente tem que dar um jeito. - eu respondi.

- Você ao menos conhece esse lugar?

- Bom... eu conheço o que vi no meu sonho... - respondi, meio sem jeito.

- ÓTIMO! - ela gritou - Simplesmente ótimo! Como diabos nós vamos entrar no lugar se nem sabemos onde é?

- Eu sei como chegar lá, pelo elevador. - eu respondi.

- Igual ao seu sonho?

- Igual ao meu sonho.

Alex, que esteve calado o tempo todo, finalmente se pronunciou:

- Caras, não é querendo ser chato, mas, não podemos deixar o lenga-lenga de lado e ir logo? Se tem alguém realizando testes ilegais em mim eu quero descobrir agora.

- Tudo bem, vamos. - eu disse.

Enquanto íamos, a uma sensação estranha tomava conta de mim. Eu sentia como se não houvesse outra alternativa, a não ser entrar naquele elevador e tentar descobrir a verdade. Era como se uma força mística estivesse me puxando até lá e eu não pudesse fazer nada a respeito. Quando menos esperava, estávamos em frente ao elevador.

- Temos que torcer para que ninguém queira entrar nesse elevador também. - eu disse.

- Então é melhor irmos logo. - respondeu Alex.

- Não acredito que estou fazendo isso. - disse Anna.

Entramos no elevador e eu apertei os botões, segurei-os por 6 segundos e...

Nada.

Nos entreolhamos, desconfiados. E então tentei apertar os botões novamente.

Nada.

E então eu vi o diretor vindo na direção do elevador. Aquela sede de sangue começou a aparecer novamente, mas tive que me controlar.

- O diretor está vindo aí, tenho certeza de que ele vai para lá.

- John, deixe de paranóia. Você mesmo viu que o elevador não desceu, mesmo depois de você ter feito seu vodu.- Anna disse.

- Vamos sair do elevador e observar o que ele vai fazer.

De repente me lembrei do Alex.

- Já sei. Vamos deixar ele ver o Alex.

- O que isso tem a ver? - ele perguntou.

- Se ele esboçar alguma reação estranha por que te viu, existe uma chance de que isso seja verdade. Você não estuda aqui, e se isso tudo for mesmo verdade, ele vai te reconhecer e vai estranhar o fato de você estar aqui.

- Bem pensado, John. Vamos. - ele disse.

Saímos do elevador e começamos a andar na direção dele. Quando passamos por ele, eu disse:

- Bom dia, diretor Stone.

Ele olhou para nós e quando viu o Alex, percebi que seus olhos se arregalaram por uma fração de segundo.

- Bom dia, garotos. - disse, e continuou indo em direção ao elevador.

- Ele arregalou os olhos quando te viu! - sussurrei para Alex.

- John, é só sua imaginação.

- Não, temos que dar um jeito de ver que botão ele vai apertar. - eu disse.

- Deixa comigo. - disse Alex.

Ele correu em direção ao bebedouro que ficava do lado do elevador, bebeu água e pegou o celular. Parecia que ele estava atentendo uma ligação, meio de costas para o elevador, e então a porta se fechou. Ele começou a mexer no celular, deu uma risada e voltou correndo.

- Pronto, consegui.

- Mas o que... - comecei a perguntar, mas ele nem me deixou terminar.

No celular dele estava passando um vídeo onde o diretor apertava os botões do elevador, mas soltava o do meio e segurava os outros por seis segundos. Tudo isso olhando de soslaio para Alex.



- Preparados? - perguntei.

- Sim!- disse Alex.

- Ainda não acredito que estou fazendo isso. - disse Anna.

Apertei os botões, soltei o do meio e segurei-os por seis segundos, exatamente como o diretor havia feito no vídeo. E então as portas se fecharam e o elevador começou a descer.



Quando as portas se abriram, vi uma sala exatamente igual à que apareceu no meu sonho. A única diferença é que a única pessoa que estava na sala, era o diretor. E ele olhava para nós, perplexo.

- Então vocês lembraram. - ele disse.

- Na verdade não. - eu respondi, tentando controlar a sede de sangue que tomava conta de mim - Eu... recebi uma dica.

- E quem te deu essa dica? Seu pai?

- Meu pai? O que ele tem a ver com isso? - perguntei.

Ele simplesmente deu uma risada, pegou um controle e apertou um botão. No telão, apareceram imagens dos testes. E meu pai fazia esses testes.



- Vejo que não foi seu pai que disse.- o diretor falou.

- Mas o que... - eu não consegui terminar a frase.

- Seu pai, Keane, é um gênio da neurociência. Ele me ajudou a descobrir o processo de drenagem de memória que implatamos no projeto. O projeto consiste em...

Eu não conseguia mais prestar atenção em nada. Meu pai, por trás daquela loucura toda? Meu pai era simplesmente um Chef de cozinha! Como ele poderia ser um gênio da neurociência? O que levou ele a fazer essa aliança maluca com esse lunático? Que ideais o levaram a fazer testes no seu próprio filho e nos amigos dele? Eu não conseguia mais aguentar isso tudo.

- CHEGA!!! - gritei.

Todos me olharam assustados.

- Pára essa porra de vídeo.

- Você não está em posição para...

Antes que ele pudesse terminar a frase, voei pra cima dele e o acertei na orelha direita, fazendo ele cambalear.

- Pára esse caralho de vídeo agora ou quebro seu pescoço! - a sede de sangue estava quase incontrolável.

Ele parou o vídeo e deu uma risadinha.

- Qual é a graça? - perguntei.

- Essa vontade de me matar que você está sentindo... eu implantei ela em você.

- O quê? - perguntei.

- Este era o objetivo do projeto, tentar "programar" a mente humana. Seu pai, Keane, era um neurocientista de fama mundial antes de você nascer. Mas um experimento dele saiu errado, custando a vida de alguns membros da equipe dele. Ele teve que fugir e mudar de identidade juntamente com sua mãe e você, que ainda era um bebê. O nome verdadeiro dele é Daniel Hopkins. O seu, é John Hopkins.

- Daniel Hopkins? Aquele cientista louco procurado por assassinato? - perguntei, incrédulo.

- O único. Eu descobri quando ele veio te matricular nesta escola. Acompanhei o caso dele de perto e o reconheci no momento em que ele entrou na escola. No início ele pensou que eu o denunciaria, mas eu não poderia perder a chance de adicionar uma mente daquele porte ao projeto.

- Em que consiste esse projeto? - Anna perguntou.

- Como falei anteriormente, nosso intuito é descobrir um jeito de programar a mente humana. Assim poderemos inibir personalidades psicopatas, entre outras coisas. Você, Keane, têm sido gradativamente transformado num psicopata, para que depois possamos inibir esta característica. Você, Watts, nós estamos programando você para não tolerar nenhum tipo de violência. E você, Wyvern, você é a fase final do projeto.

- Eu? - Alex perguntou, espantado.

- Sim. Nós estamos elevando seu QI. Queremos que você vire o presidente dos Estados Unidos. Mas quem vai governar de verdade, sou eu. Você vai ser a fachada. Você nunca se perguntou por que matava as charadas dos jogos de forma tão rápida? Agora me responda, Keane, quem te deu essa dica?

- Foi um sonho que eu tive. Sonhei com esta mesma sala, com eles dois, com meu pai, e com um bando de terroristas que queria fazer você pagar pelos seus crimes. No final, o terrorista era você.

- Interessante... então seu subconsciente se manifetou para te mostrar a verdade. Mostrou até detalhes, como seu pai e eles dois. Esse grupo terrorista... Você se lembra deles?

- Lembro dos nomes de alguns... Michael Sanders, Luciana, James...

- Acredito que eu tenha subestimado seu subconsciente, então. Michael Sanders, Luciana Fishman, James Black, Steve Bennet, Harry Kingston, Walter McDevon, Juarez Cordova, Stuart Harris e Harold Fox foram os nove que antecederam vocês.

- Nove? - perguntou Anna.

- Nove... eram nove terroristas no meu sonho. - eu disse.

- Exatamente, parece que seu subconsciente lhe deu todos os detalhes da história.

- No meu sonho, mencionaram algo sobre eu ser o número dez. Tem algo a ver com isso? - perguntei.

- Tem sim. Significa que você foi o décimo objeto de testes. - ele respondeu.

- Qual o número deles dois?

- Watts é o número onze e Wyvern é o doze.

- E o que aconteceu aos outros? - Anna perguntou.

- Eles... meu Deus, eles morreram. - Alex disse.



- Alguns sacrifícios precisam ser feitos para o bem da ciência, não concordam? - ele disse.

- Você matou pessoas pelo "bem" da ciência? - Anna chorava de raiva.

- Milhares de pessoas já morreram pelo bem da ciência. Este mundo em que vivemos é praticamente construido sobre os cadáveres destas pessoas. É um sacrifício necessário. Tentem enxergar a beleza deste projeto, crianças. Com isso, nós poderemos revolucionar o mundo da neurociência, poderemos até acabar com guerras!

- Ou começá-las. - Anna disse.

- Este não é o espírito, srta. Watts.

- Você quer que eu aceite essa desculpa esfarrapada pelo assassinato destas pessoas? E se nós acabássemos morrendo também? - eu estava a ponto de explodir.

- A morte de vocês não seria em vão. Você, Keane, com toda esta vontade de matar, deveria me entender.

Era isso. Eu não consegui mais segurar.

Perto de nós havia uma bandeja com ferramentas médicas. Peguei um bisturi e comecei a golpeá-lo na barriga. Anna se desesperou e tentou me impedir, mas Alex a segurou e disse que era para me deixar, ou ela acabaria se machucando. Ela lutava desesperadamente para se soltar dele, mas ele era mais forte. Por fim, cortei a garganta dele. Mas antes de cortá-la ele me disse as palavras que nunca mais vou esquecer:

- Não contava com a possibilidade de Wyvern deixar você me atacar, Keane. Mas você vê a beleza da coisa agora? Você está fazendo exatamente o que eu queria que você fizesse, o que eu programei você para fazer. O projeto deu certo, e mesmo não estando aqui para ver, eu venci, e os membros do projeto que ainda vivem continuarão o meu legado. Este mundo um dia conhecerá o trabalho de Howard Stone.

E, enquanto Anna gritava desesperadamente para que eu parasse, eu acabei com a vida dele.



Anna e Alex estão juntos, hoje. Alex ganhou uma bolsa em Yale e Anna cursa ciências sociais na mesma universidade que ele. Ela quer se tornar uma diplomata. Acho que deve ser por causa da merda que o Stone fez com a cabeça dela, agora ela quer acabar com todas as guerras. Alex com certeza vai virar presidente, mas ele vai governar por ele mesmo, e não pelos outros. O que é uma coisa boa, fico feliz por eles dois. Já eu...

Tenho mantido contato com Alex, embora Anna não saiba. Depois do que fiz ao Stone ela disse que só não me entregaria às autoridades porque Stone era um lunático e acabaria nos matando. Acho que deve haver alguma falha no que fizeram a ela, pois se ela tivesse todo aquele senso de justiça que o Stone falou, com certeza ela me colocaria atrás das grades. Depois do que aconteceu na sala do Stone vi que não conseguiria mais parar essa vontade de matar que tenho. Então decidi usar ela contra seus próprios criadores e comecei a caçar os membros do projeto um a um. Não foi fácil, mas pouco a pouco, consegui achá-los e dar um fim neles. E por fim estou aqui, com o último membro do projeto amarrado e amordaçado na minha frente. E por tudo que vocês me fizeram passar, eu vou dar o troco agora. Vê estas ferramentas de tortura? Cada uma delas vai ser usada vagarosamente em você. E não ache que no final eu vou te matar. Vou cuidar dos seus ferimentos para depois continuarmos com a diversão. É bom você estar preparado, pai. Vamos começar?
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Espero que tenham gostado. =p
Pretendo escrever mais algumas histórias com o John, e já tenho algumas idéias. Assim que escrever uma posto aqui.