segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Estrada solitária

Eu REALMENTE (e não posso destacar isso o suficiente, só se conseguisse que as letras piscassem e a moça do avast ficasse repetindo "REALMENTE REALMENTE REALMENTE REALMENTE") recomendo que vocês leiam esse texto ouvindo essa música.
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- Então, sobre o quê você queria falar? - disse George. Ele conseguiu não deixar transparecer, mas estava meio preocupado, como se desconfiasse que algo ruim estava por vir.

- Bom... eu só queria agradecer por tudo que passamos juntos. - respondeu Lionel, com um sorriso bastante sincero nos lábios - Eu sei que vocês estão meio confusos, mas vocês vão entender o que quero dizer.

   Lionel, George, Marcus, Ralph, Elmer e Frank eram bons amigos. Não havia tanto tempo que se conheciam, talvez uns quatro ou cinco anos, mas já haviam chegado a um nível de amizade que muitas pessoas poderiam considerar verdadeira. Tinham seus problemas, claro, mas, no geral, gostavam e confiavam muito um no outro.

Mas... há desentendimentos nas melhores famílias.

- O que tá acontecendo? - perguntou Elmer, nitidamente o mais preocupado dos seis. - Você sabe que pode con...

- Eu sei, Elmer. Eu sei. - respondeu Lionel, antes que Elmer pudesse completar o "contar conosco" - E eu realmente agradeço por isso. Mas esse é exatamente o problema.

   Eles se olharam confusos. Elmer estava prestes a falar algo quando Lionel o interrompeu.

- Se vocês me deixarem, eu vou explicar.

   Todos ficaram em silêncio.

- Nós nos divertimos muito juntos, heim? - começou Lionel, com outro sorriso extremamente sincero no rosto.

- Nós ainda não...

- Calma, vocês entenderão. Eu lembro muito da festa do Ralph... Aquela festa foi épica. Uma das melhores festas que eu já fui.

- Realmente foi muito boa - Frank falou pela primeira vez.

- Lembram da Claire, dando em cima de metade da festa?

- Quem não lembra disso? - disse Raplh, entre risadas - Aquela festa foi uma das melhores coisas que já fiz na vida.

- Pena que só você aqui viu o tal do OVNI, Lionel. - disse Elmer, e todos caíram na gargalhada.

- Tá, eu estava bêbado, mas não fui o único.

- Claro, vou acreditar nas palavras de um bêbado. - disse Marcus, rindo.

- Eu gosto muito de todos vocês, confio em todos vocês, mas existe algo que me incomoda nesse grupo. - disse Lionel, finalmente.

- O que você quer dizer? - Perguntou Frank.

- Eu mesmo. - respondeu Lionel.

- Como assim você mesmo? - Elmer parecia preocupado novamente.

   Lionel ficou em silêncio um tempo, e todos o olharam febrilmente, como se esperassem que ele revelasse o sentido da vida.

- Nós nos damos muito bem, apesar dos problemas. Mas nosso grupo é dividido.

- Dividido? - todos perguntaram ao mesmo tempo.

- Sim, temos três panelinhas aqui.

- Que panelinhas, cara? Você tá deli... - disse Marcus, de repente.

- Ralph, Elmer e Frank... Marcus e George... e eu. - disse Lionel, interrompendo.

- Quê? - todos pareciam que tinham acabado de ouvir o maior absurdo da face da terra.

- Não sei se vocês nunca perceberam ou estão se fingindo de idiotas, mas Raplh, Elmer e Frank têm suas festinhas particulares com outros amigos, às vezes. Eu sei que todos nós temos amigos fora daqui - Lionel continuou, antes que Ralph, Elmer ou Frank pudessem falar qualquer coisa - mas muitos desses amigos também são nossos amigos e nós nunca fomos convidados.

   Todos ficaram em silêncio.

- Não estou reclamando... na verdade eu nem me importo, e, se fosse convidado talvez nem fosse. É só uma observação. Vocês três parecem mais próximo uns dos outros do que com o resto de nós. E, novamente, não estou reclamando, isso é natural. Só quero mostrar que é inegável.

   Todos pareciam meio desconfortáveis, como se tivesse sido revelado que cada um deles já tinha falado mal dos outros pelas costas.

- Marcus e George são basicamente um casal. Um é confidente do outro e às vezes parece que nem suas namoradas sabem das coisas que vocês sabem sobre o outro. E isso também é natural, não acho que todos nós devemos confiar uns nos outros em níveis iguais. É só outra observação.

- Cara, não é pra tanto. - disse George.

- Sinceramente, não me importa muito se é ou não é pra tanto, porque é aí que entra o problema. - respondeu Lionel - Eu não ligo se vocês três são mais próximos - ele disse apontando para Ralph, Elmer e Frank - ou se vocês dois confiam mais um no outro do que no resto de nós. - disse apontando para Marcus e George - E esse é o problema. Eu. Eu não ligo.

- Como assim?

- Eu não ligo. Eu não me importo. Eu não me sinto tão próximo de vocês, ou de ninguém, minha confiança não é grande coisa e, por isso, eu não ligo. Isso deveria ser uma coisa ruim, horrível até, mas, eu também não ligo pra isso. - disse Lionel rindo. Essa foi a risada mais sincera que ele já deu em sua vida.

   Todos os outros olhavam pra ele espantado.

- Não estou dizendo que vocês são culpados disso ou que me excluam de propósito. Eu só não me encaixo aqui. Ou em qualquer outro lugar.

- O que você tá dizendo? É claro que você se enca...

- Caras, não comecem. Vocês sabem que isso é verdade. Vocês vêem como às vezes eu fico deslocado quando a gente sai. Como eu sou calado. Como eu nunca falo sobre o que acontece comigo. E isso não é culpa de vocês. Eu só me sinto bem sozinho. O lobo é meu animal preferido, pelo amor de Deus!

- Isso não quer dizer nada, eu também gosto de lobos. - disse George.

- Você vai ver com o tempo. - respondeu Lionel, dando uma piscada.

- E o que você quer dizer com isso tudo? - perguntou Elmer.

- Apenas isso. Que eu finalmente percebi quem eu sou e que estou me sentindo ótimo comigo mesmo. Que vocês não devem se preocupar ou achar que fizeram alguma coisa se eu me distanciar. É quem eu sou. E eu não tenho como fugir de mim mesmo.

- Você não precisa se distanciar. - Ralph disse, como se explicasse pra uma criança que dois mais dois são quatro.

- Eu sei que não preciso, mas isso pode acabar acontecendo. Só quero que vocês não se sintam culpados por nada, pois ninguém é culpado de nada aqui. Se isso acontecer, só significa que as coisas tomaram seu rumo natural.

   Todos ficaram calados por um tempo, como se tivessem acabado de saber que um parente muito próximo havia morrido.

- Qual é, caras, não é o fim do mundo. - disse Lionel, se levantando e pegando um cigarro na carteira.

- Não sabia que você fumava. - disse Elmer.

- Nem eu. - respondeu Lionel - Mas preciso fazer uma saída estilosa. - concluiu, se virando e começando a andar.

- Lionel, eu...

- Caras... não. Apenas não. - disse Lionel, parando, mas sem se virar - Não percam seu tempo, não vale à pena. É quem eu sou. - concluiu, voltando a andar.

- E quem você é? - Marcus perguntou.

   Lionel parou, acendeu o cigarro, deu uma longa tragada, expeliu a fumaça levantando a cabeça e, embora ninguém pudesse ver, estava sorrindo.

- I'm a lone wolf. - respondeu, levantando a mão esquerda como se desse tchau pra quem está atrás dele. E então voltou a andar, cantando - Mama... it's a lonely, lonely road... I gotta do this on my own... It's a lonely, lonely road...

   Lionel estava, pela primeira vez na sua vida, feliz consigo mesmo.

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