terça-feira, 18 de setembro de 2012

A porta

 Se você é cheio(a) de mimimi pra violência, recomendo que ignore esse texto. =p
 __________________________________________________________________________________

   Mike estava sendo consumido pelo ódio, mas conseguiu não demonstrar.

- Você não consegue fazer nada direito, né?! - gritava Heather - Pelo amor de Deus, homem! Olhe para mim quando eu estiver falando!

   Ele olhava fixamente para baixo, como se estivesse disputando quem conseguia ficar mais tempo sem piscar com o chão. Havia ódio no olhar dele. Nitidamente. Quando levantou os olhos, o ódio tinha dado lugar a uma branda raiva.

- Você tá com raiva? Imagina como eu estou, agora que vou ter que limpar sua merda! - Heather continuava gritando.

   Mike era consultor de vendas de uma empresa. Trabalhava quarenta horas por semana, recebia seu salário, pagava suas contas e vivia tranquilamente. Tinha uma esposa e dois filhos, de oito e dez anos. Tricia e Daniel. Ele gostava de música clássica, filmes de faroeste, comida italiana e golfe. Corria todo dia, após acordar. Depois disso tomava seu café, se arrumava, deixava as crianças na escola e ia para o trabalho no seu carro esportivo. À noite, quando chegava em casa, jantava com a família e depois todos assistiam tv juntos. Tinha uma boa casa, num excelente bairro de uma ótima cidade. A casa tinha até cerquinha branca e um gramado impecável. Ele era o exemplo do sonho americano.

   Mas, nesta tarde, ele havia cometido um erro infantil no trabalho e estava ouvindo mais uma das famosas broncas da sua supervisora, Heather.

- Eu não estou pedindo pra você limpar nada, Heather. - respondeu, falando suavemente. Aquele tipo de fala suave que faz o ouvinte achar que a morte está chegando com a foice preparada para o ataque.

   Heather estremeceu um pouco, mas se recompôs.

- Eu sei que você não tá pedindo minha ajuda, porra! Mas eu tenho que limpar, ou vai acabar sobrando pra mim também!

   Ela gritava tanto que o rosto de Mike era coberto por uma chuva de saliva.

- Olha... - disse ela, se acalmando - Eu vou falar com o Harry sobre isso. Mas reze, reze muito para ele entender seu lado. Não posso fazer milagres.

   Mike não respondeu nada. Nesse momento, ele apenas abriu uma porta.

   Uma porta na sua mente.

   Uma porta escura, que passava a maior parte do tempo trancada. Aquela porta levava para um quarto escuro, pequeno e claustrofóbico. Um quarto habitado por demônios, desespero, loucura, pecado, morte. Um quarto onde ele podia viver suas fantasias mais hediondas. Um quarto onde só se ouviam gritos. Um quarto que cheirava a sangue e carne podre. Um quarto onde, nesse momento, Heather era torturada enquanto gritava. Onde Mike ria, assistindo as lágrimas dela se misturarem com seu sangue. Onde seus olhos eram arrancados vagarosamente, para que ela sentisse cada tendão se partindo, um a um. Onde sua língua era serrada e o sangue corria para a garganta, sufocando-a. Onde ela tinha seu ânus penetrado enquanto suas nádegas eram queimadas por pontas de cigarro. Onde seus mamilos eram mordidos e apertados e puxados. Onde ela gritava para morrer. Um quarto onde esse desejo foi atendido, depois de muita dor e sofrimento.

   Um quarto que existe na mente de todos.

   E tudo que nos impede de transformar essas fantasias em realidade é uma porta, simples e frágil.

   Quem nunca abriu esta porta e espiou o quarto escuro, que atire a primeira pedra.

Um comentário: