domingo, 11 de abril de 2010

Perseguindo sombras

Sábado, 23 de setembro de 2006.

21:13

Tem algo errado aqui. A partir do momento que entro por aquela porta, sinto isso. Do mesmo jeito que sinto o vento acariciando minha pele, ou o cheiro do café pela manha. Não é simplesmente intuição, é algo físico. Uma sensação gélida que percorre minha espinha e deixa meus cabelos de pé, mesmo sem nada acontecer. Tenho a impressão de estar ouvindo sussurros através das paredes, mas sei que não tem mais ninguém aqui. Não consigo entender o que dizem, pra falar a verdade não sei nem se os ouço realmente. Eu tentava me convencer de que esta sensação ruim era apenas impressão, mas agora não tenho mais dúvidas de que há algo errado aqui. Preciso descobrir o que é.

Domingo, 24 de setembro de 2006

19:27

Posso estar ficando louco, mas ouvi alguém sussurrar meu nome. Eu estava indo para a cozinha preparar meu jantar quando ouvi alguém dizer "Marcus". O que não entendo é que o sussurro parecia estar distante e próximo ao mesmo tempo, parecia vir de todas as direções ao mesmo tempo, parecia ser muitas, mas também uma só voz. Aquele frio na espinha foi mais forte que nunca, mas não foi medo. O frio na espinha veio antes, como um prenúncio. Será minha mente me pregando uma peça? Preciso de ajuda para saber. Segunda procurarei um psicólogo.

Segunda-Feira, 25 de setembro de 2006

03:16

Não tenho certeza se o problema é na minha cabeça, mas vi algo hoje. Acordei no meio da noite, mas antes de abrir os olhos vi uma luz através das minhas pálpebras, mas quando os abri não havia nenhuma luz acesa. Tudo aconteceu muito rápido, eu poderia inclusive ainda estar sonhando quando vi aquela luz. Estou realmente começando a ficar preocupado.

Segunda-Feira, 25 de setembro de 2006

23:33

Ouvi aqueles sussurros novamente. Do mesmo jeito, perto, longe, de todos os lugares, várias e só uma voz. Dessa vez falaram "volte, Marcus". O que está acontecendo aqui? Tive a sensação de estar sendo observado também. Preciso conversar com a Dra. Syre.

Terça-Feira, 26 de setembro de 2006

06:30

Vi algo muito estranho após acordar. Alguém entrou na minha casa e deixou um bilhete no meu criado-mudo. Dizia "volte, Marcus". O bilhete foi escrito com minha caneta, que fica ao lado da cama. Estou levando-a para procurar digitais. Espero encontrar alguma coisa.

Terça-Feira, 26 de setembro de 2006

20:30

Nada, apenas digitais minhas na caneta. Também não há sinal de arrombamento na casa e o alarme não disparou. A Dra. Syre disse que isso pode ser estress, mas não há motivos para isso. Fiz uma pesquisa e descobri que isso pode ser sintoma de psicose. Vou procurá-la amanhã e comentar isso.

Quarta-Feira, 27 de setembro de 2006

19:57

A Dra. Syre falou que pensou na possibilidade de ser psicose, mas ela não quer contar com isso até que seja absolutamente necessário. Ela me indicou algumas medidas que posso tomar para combater o stress. Isso se for stress mesmo.

Quarta-Feira, 27 de setembro de 2006

19:59

Quando acabei de escrever a última entrada, me virei e vi um vulto passar pela porta. Como a luz do corredor não estava acesa, não deu para ver detalhes. Corri para o corredor, mas não havia ninguém lá, nem no resto da casa. Todas as portas e janelas estavam trancadas e não ouvi nada se fechar. Quando voltei para o quarto, outro bilhete. Desta vez "volte para cá, Marcus". Não sei mais o que é real e o que é produto da minha imaginação.

Quarta-Feira, 27 de setembro de 2006

21:10

Liguei para a Dra. Syre, contei o que havia acontecido e ela me disse para chamar a polícia. Chamei e eles confirmaram o que eu já sabia: ninguém entrou aqui, mas levarão os bilhetes como evidência. Espero que descubram algo com eles.

Quinta-Feira, 28 de setembro de 2006

08:36

Tem algo errado aqui, não tenho mais dúvidas. Acabei de voltar do hospital. Fui dormir depois que os policiais foram embora, e então acordei no porão. Meus pulsos estavam cortados, porém não profundamente, e no chão, em frente a mim, havia um caixão desenhado com meu sangue. A ponta do meu dedo indicador da mão direita estava suja de sangue. Os médicos fizeram exames e disseram que não parece haver nada de errado com meu cérebro, mas vou esperar os resultados oficiais. Estou com um palpite, mas não acho que vá dar em algo. Melhor, não quero que dê em algo. Mas preciso verificar, de qualquer jeito. Me deram folga no trabalho, vou aproveitar e correr atrás disto.

Quinta-Feira, 28 de setembro de 2006

17:35

Eu sou um homem da ciência, não deveria dar atenção a este tipo de coisa. Mas não encontro outra explicação. Sinto que estou perdendo a sanidade, e resolvi recorrer a tudo que possa me oferecer algum tipo de solução. Procurei um ocultista, Jean Gamba. Ele me disse que algo na casa quer se comunicar comigo, quer que eu ache algo. Não faço idéia do que seja. Na verdade, a idéia toda me parece ridícula. Mas nada do que me foi indicado antes parece funcionar. Ele me disse para esperar, pois eu receberia outra tentativa de comunicação. Estou com medo.

Sexta-Feira, 29 de setembro de 2006

02:22

Acordei no porão novamente. As feridas no meus pulsos estavam abertas e o caixão desenhado no chão novamente. Refiz os curativos, e quanto retornei para o quarto, outro bilhete. Desta vez "estou aqui, Marcus, volte". Por que sempre o porão?

Sexta-Feira, 29 de setembro de 2006

09:55

Não consegui dormir. Tudo isso está me consumindo. Não consigo me concentrar no trabalho, não estou dormindo bem, não estou dando atenção aos meus amigos. Só consigo pensar no que está acontecendo. Minha mente não sai daquele porão. O que há lá? Preciso descobrir.

Sexta-Feira, 29 de setembro de 2006

22:20

Passei o dia revirando aquele porão, parei apenas para cochilar durante dez minutos, mas não encontrei nada. Ainda conseguia ver a mancha de sangue no chão, onde desenhei o caixão durante o transe. Aquilo realmente me incomoda. Mas o que está realmente me incomodando não é isso, e sim o que estava escrito no bilhete que encontrei na minha cama quando voltei para o quarto. "volte para mim, Marcus". Estou a ponto de perder a razão.

Sábado, 30 de setembro de 2006

02:22

Acho que tenho uma pista. Novamente acordei no porão, com o caixão pintado à minha frente, mas dessa vez com algo que não estava lá antes. Uma data: 31 de setembro de 2002. Preciso descobrir o que ela significa.

Sábado, 30 de setembro de 2006

23:41

Pesquisei esta data na internet o dia todo, mas não encontrei nada que pudesse me ajudar. Mas ela apareceu por alguma razão, tenho certeza. Vou ligar para Jean e pedir auxílio.

Sábado, 30 de setembro de 2006

23:52

Jean me deu uma dica muito boa. Ele disse que o porão em si parecia ser uma pista, então eu poderia pesquisar a data junto com o endereço daqui. Fiz a pesquisa e encontrei algo interessante. No dia 31 de setembro de 2002, o então morador desta casa, Jonah Harper, foi dado como desaparecido. Por falta de pistas, as investigações foram interrompidas. Nenhuma notícia dele desde então. Imagino que tudo que esteja acontecendo tenha a ver com ele. Preciso de mais pistas.

Domingo, 31 de setembro de 2006

02:22

Acordei no porão novamente, com o caixão desenhando à minha frente novamente, e finalmente entendi. Há algo naquele porão, eu só não havia pensado que poderia estar escondido daquela maneira. O corpo de Jonah Harper está enterrado abaixo dele, tenho certeza. Vou procurá-lo antes de acionar as autoridades, pois não posso me dar ao luxo de dar uma pista falsa. Caso eu encontre algo, os chamarei. Estou com medo do que posso encontrar, mas preciso descobrir a verdade por trás disso tudo, seja ela sinistra ou simplesmente fruto da minha imaginação. De qualquer maneira, espero ficar bem depois disso tudo.

MATÉRIA EXTRAÍDA DO THE NEW YORK TIMES DE 01 DE OUTUBRO DE 2006

PROFESSOR UNIVERSITÁRIO ENCONTRADO MORTO AO LADO DE CORPO DE HOMEM DESAPARECIDO

Por DWAYNE SMITH

O corpo do professor universitário Marcus Gray, 32, foi encontrado na manhã desta segunda-feira, 01, no porão da sua casa, em Westchester. As autoridades informaram que todas as evidências indicam suicídio. Marcus foi encontrado deitado no porão da sua casa com os pulsos cortados, ao lado de uma cova clandestina onde foi encontrado o corpo de Jonah Harper, ex-morador da casa que havia desaparecido em 2002. O chefe de polícia, Thomas Knight, informou que uma investigação foi aberta para descobrir o assassino do Sr. Harper, mas que as evidências apontam para o Sr. Gray. A faca que o Sr. Gray usou para cortar seus pulsos continha traços de sangue do Sr. Harper, além do fato de ele saber onde o Sr. Harper havia sido enterrado. O Sr. Gray havia acionado a polícia alguns dias atrás, suspeitando que alguém havia entrado em sua casa e deixado um bilhete no criado-mudo, mas foi constatado que a caligrafia dos bilhetes pertencia ao próprio Sr. Gray, e que não haviam impressões digitais de outras pessoas na caneta que foi usada para escrevê-los. Foi encontrado um diário onde o Sr. Gray fez algumas anotações de como ele suspeitava que algo estranho estava acontecendo na sua casa ultimamente, e citava algumas consultas com a psicóloga Patricia Syre. Entramos em contato com ela, e após analisar o material, ela informou que existe a possibilidade de o Sr. Gray ter uma segunda personalidade, assim seria possível que ele tivesse matado e escondido o corpo do Sr. Harper e não lembrar do fato depois. Ela informou também que o subconsciente do Sr. Gray poderia estar trazendo essas lembranças reprimidas à tona, fazendo com que ele iniciasse esta pequena investigação particular. Aguardaremos maiores informações sobre o caso.

5 comentários:

  1. Fiquei com medo =x
    Mas tb não consegui parar de ler xD
    Muito boa msmo! Boto fé.

    Ainda aguardo o "projeto inicial", se é que vc ainda tem ele em mente ^^

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  2. Taí... adorei xD
    realmente muito interessante, fiquei com os olhos pregados na tela no notebook quase sem piscar xD~

    Th_

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  3. C@r@Lh#!! bacana demais ... a curiosidade não deixa parar de ler o texto !

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  4. negócio macabro dos infernos!!! esse lance de vulto no corredor... affffffff

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  5. Muitoo bom!!! Esse clima de suspense, obscuridade, e todas as questões que ficam subjetivas ao longo do texto realmente prendem a atenção do leitor. Muitoo bom mesmo!

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