Existe um segundo, que parece que nunca vai acabar, entre você perceber que algo de ruim aconteceu e você tomar sua primeira atitude. Eu costumo chamar este segundo de "eternidade instantânea". Você fica parado, sem saber o que fazer, sua mente trabalhando a mil, seu corpo não responde, várias possibilidades de futuro se estendem à sua frente neste mísero segundo. Por mais rápido que seja, dá tempo de você visualizar cada uma destas possibilidades detalhadamente, mas todas o assustam. Você decide ficar ali para sempre, sem fazer nada, para que nenhum desses futuros tão assustadores tenha que acontecer. Mas o tempo passa, e com ele, o futuro que tanto o assusta inevitavelmente chega.
- NÃO!!! – gritei, e comecei a correr em direção a ele.
Enquanto eu corria os tiros passavam por mim, e, embora eu não tivesse sentido na hora, um raspou minha perna direita.
- Alex, não, não, não, não! – na hora, eu não sabia o que pensar.
- Você é o próximo, seu filhinho da puta! Acabei de matar seu namorado e agora vou acabar com você!
- Isso não tá acontecendo, é um sonho, só pode ser um sonho. – eu dizia.
- Tá preparado pra morrer? É bom estar, porque sua morte vai ser bem lenta!
- Não, não, não, não, não...
- Tô indo, é bom começar a rezar! - gritava o terrorista.
- ...não, não, não, não, não...
- Tô chegando aí, heim?
- ...não, não, não, não, não...
- Você se acha o herói, não é? Agora não passa de uma porra de uma criancinha chorona!
- ...não, não, não, não, não...
E de repente, senti algo tocar a parte de trás da minha cabeça e uma voz falar atrás de mim:
- Eu te avisei que iria te matar, você tá preparado?
- ...não, não, não, não, não...
Clic.
Clic-clic.
Clic- clic- clic- clic- clic- clic- clic- clic- clic- clic- clic…
- Isso não pode ser verdade. – ele disse.
- EU VOU ESTRAÇALHAR VOCÊ SEU FILHO DA PUTA!!!! – e então parti pra cima dele.
Comecei a bater a cabeça dele na parede enquanto gritava de ódio. Depois a coloquei na soleira da porta e a bati inúmeras vezes. Por fim, peguei o canivete que estava com Alex e cortei sua garganta. O sangue jorrava no meu rosto e na minha camisa e eu não me importava. O que importava é que eu havia deixado Alex morrer. Como eu diria para todos que havia deixado isso acontecer? Como conseguiria viver com isso na minha consciência? E agora que eu havia soltado toda a minha raiva nesse cara, percebi que uma sede de sangue estava tomando conta de mim.
Havia um monstro dentro de mim. O tempo todo ele esteve ali, esperando a oportunidade de aparecer, e agora, quando parece que eu estou lutando pelo que é certo, percebo que só estou satisfazendo a sede de sangue deste monstro que habita minha mente. Durante todo este dia, eu vinha dizendo para mim mesmo que estava matando estas pessoas somente por uma questão de sobrevivência, para proteger a mim e aos outros. Mas, depois de realmente soltar a minha raiva, vi que não era isso. Eu estava matando aquelas pessoas porque queria, e, aparentemente, porque gostava. Eu acreditava que todas as pessoas mereciam uma segunda chance, meus valores e princípios me diziam que, não importa o que acontecesse, eu nunca cruzaria essa linha entre justiça e vingança. Mas um dia ruim pode levar seus valores e suas crenças por água abaixo. Parece que, no final das contas, eu havia mentido mesmo para a Anna. Eu não pouparia a vida de ninguém.
Quando entrei na sala, completamente sujo de sangue, todos se assustaram. Mas só a Anna percebeu que eu estava sozinho.
- Cadê o Alex?
Silêncio.
- Cadê o Alex?
Silêncio.
- Merda, responde, cadê o Alex? – ela já havia percebido o que aconteceu, mas não queria acreditar.
- Eu não consegui protegê-lo.
O silêncio reinou na sala, para logo depois ser quebrado pelo choro de todos. Mas Anna não estava chorando. Ela era a única que não estava chorando.
- Me desculpem, eu...
- Não foi culpa sua. – ela disse.
- O quê? Anna, ele tentou...
- Calado! Eu estou dizendo que a culpa não foi sua! O que aconteceu com a pessoa que matou ele?
- Eu... eu o matei. – eu respondi olhando para o chão.
- Não havia outro jeito?
Havia. Ele estava sem munição, eu podia tê-lo golpeado na cabeça e trazido ele para a sala, para que ficassem de olho nele.
- Não.
- Tudo bem. Mas, de agora em diante, ninguém mais morre nessa escola, entendeu? Eu não quero que você suje mais suas mãos de sangue.
- Mas e se...
- Sem mas! Não importa o que aconteça, você vai dar um jeito de contornar a situação sem ter que matar, entendeu?
- Anna...
- Chega!!! Se alguém mais morrer aqui, eu não vou agüentar!
- Tá, tudo bem, calma. Eu não vou matar mais ninguém.
Essa era a segunda vez que eu mentia para ela naquele dia.
Como ela consegue? Mataram um amigo e ela quer que eu não mate mais ninguém? Como ela consegue fazer isso? Que senso de justiça forte é esse? Eu acreditava nos mesmos valores, mas foi só a barra pesar que eu joguei tudo pro alto e me entreguei à raiva. Mas ela não. Ela se mantém fiel aos seus princípios até diante da morte iminente. Como ela consegue ser tão forte? Pensando bem... será que ela é a forte aqui? Ou ela é a mais fraca? Ela não quer que eu mate porque acredita nos seus valores ou simplesmente porque não é forte o suficiente para sobreviver num campo de batalha? Eu estou fazendo o que posso, mesmo que pelas razões erradas, para proteger estas pessoas. Se ela estivesse no meu lugar, o que faria? Ela tentaria contornar a situação poupando a vida de todos ou jogaria a toalha ao menor sinal de perigo? O que é força? É você se manter fiel aos seus princípios, mesmo na pior das situações, ou estar disposto a traí-los se for preciso?
Eu precisava chegar naquele elevador. Agora, só restavam três armados e um, aparentemente, desarmado. Eu precisava de um deles vivo para me mostrar qual era o segredo daquele elevador. Já estava anoitecendo, a escola estava parecendo um cenário de filme de terror. E onde estava a polícia? Porque eu ainda não havia ouvido uma sirene? Certamente os vizinhos ouviram o barulho de tiros, então por que ninguém acionou as autoridades? Mas se eu tinha um telefone, eu poderia ter feito isso. Foi então que uma idéia passou pela minha cabeça, e se esta idéia fosse verdade, poderia mudar o curso de tudo que estava acontecendo. Haviam maneiras de eu verificar se era verdade, mas se fosse, eu nunca saberia o que havia naquele elevador. E eu precisava saber o que havia lá, então, decidi seguir em frente.
Eu podia ver o elevador alguns metros à frente, e não havia sinal de vida por perto. Mas eu precisava de um deles para descobrir o segredo daquele maldito elevador. Foi então que tive uma idéia. Esta idéia poderia pôr tudo a perder, mas eu não tinha muita escolha. Peguei a pistola e atirei na parede.
O que aconteceu não era exatamente o que eu esperava, mas já era alguma coisa. O elevador começou a funcionar. Me escondi na sala mais próxima e esperei até a porta do elevador abrir. Lá dentro estavam dois homens armados e com lanternas. Um deles saiu e o outro ficou na porta do elevador, de guarda. Para minha sorte, o que ficou na frente do elevador estava na minha mira e não conseguia me ver. Quando o outro se afastou, tratei de eliminar o guarda. O outro se virou e voltou correndo. Quando chegou perto do que eu havia matado, saí da sala e o rendi, colocando a arma nas suas costas.
- Largue a arma. – eu disse.
- Alguém chamou a polícia? – ele perguntou.
- Não estou nem perto de ser policial. Agora chega de blá blá blá. Largue a arma ou morre.
- Tudo bem. – ele disse, e soltou a arma no chão.
- Agora chute a arma para longe.
Ele obedeceu.
- Entre no elevador.
- Pra quê?
- Vou contar até três. Entre no elevador.
Ele obedeceu novamente. Dentro do elevador, eu o mantive sob minha mira e perguntei:
- Agora me conte, qual o segredo deste elevador? Por que todo esse estardalhaço só para chegar aqui?
- Não sei do que está falando. – ele respondeu.
Bati nele com a arma e disse:
- A tal da Luciana, que estava com o James, me disse que vocês pretendiam chegar aqui. Sei que tem algo a ver com o diretor e os crimes que ele cometeu. Ela também disse que este elevador é a única maneira de chegar no lugar onde estão guardadas as provas destes crimes. O que você me diz?
Ele pensou por um tempo e finalmente respondeu:
- Tudo bem, garoto. Me deixe olhar para você.
- E por que eu faria isso? - perguntei.
- Você pode continuar apontando a arma para mim, só quero olhar pra você.
- Não vá tentar nada engraçado. – eu disse, e me afastei para que ele pudesse se virar.
Ele se virou, e quando viu meu rosto, uma expressão de surpresa tomou conta dele.
- Então é você que está nos causando tantos problemas.
- Você me conhece?- perguntei.
- Claro, John.
- Como você sabe meu nome?
- Você se chama John Keane, tem 17 anos, mora com seus pais, Roger e Susan Keane, na rua St. Peter, que fica a 15km daqui. É filho único, gosta de jogar baseball, sair com os amigos, não tem namorada e às vezes sente como se tivesse esquecido de algo muito importante, algo que você não poderia esquecer.
Ninguém sabia sobre meus esquecimentos, como esse cara poderia saber?
- Quem é você? – perguntei, com o dedo tremendo no gatilho.
- Olha, depois que você ver o que nós viemos buscar, vamos ficar do mesmo lado, acredite.
- O que está acontecendo?
- Só não atira em mim que tudo vai ser esclarecido para você.
Então, lentamente, ele aproximou a mão dos botões do elevador, apertou todos ao mesmo tempo e os segurou por um tempo. E então o elevador, que estava no térreo, começou a descer.
- Para onde está me levando?
- Tudo que te disseram era verdade. O diretor dessa escola esconde algo que poderia levá-lo à pena de morte. Estamos aqui para revelar a verdade sobre ele para o mundo e fazer justiça.
- O quê ele esconde? – meu dedo tremia como nunca.
- Já estamos chegando, então você vai ver com seus próprios olhos. - ele disse, e então se encostou na parede do elevador.
Vinte segundos depois, o elevador parou e a porta se abriu. Estávamos numa espécie de laboratório subterrâneo, com algumas macas, ferramentas médicas, algumas gaiolas vazias e um computador. A sala era a prova de som, também. Na parede ao fundo, havia também um telão. Em cima de uma mesa, no meio da sala, haviam algumas pastas.
- Meu nome é Michael, Michael Sanders. – ele disse, saindo do elevador – Você tem que entender que o que vou te mostrar agora, John, pode não ser compreendido logo de cara. Pode ser que você precise de um tempo para assimilar tudo, e pode ser que você até lembre de algumas coisas. Tudo está guardado no seu subconsciente, mas, como já sabemos, você não consegue se lembrar.
- Do que está falando?
- Rapazes, este é o John, o número dez.
Haviam 2 pessoas perto da mesa, um armado e outro não. O que não estava armado era aquele que Luciana havia mencionado. Eles olhavam para mim aparentemente sem se importar se eu estava armado ou não.
- John, pode abaixar a arma, a partir de agora estamos do mesmo lado. - disse Michael, caminhando para a mesa.
- Por que eu estaria do lado de vocês?
- Por causa disto. – ele disse, pegando uma das pastas e a jogando para mim. Meu nome estava escrito nela.
Abaixei a arma, olhando a reação deles, e eles continuaram olhando calmamente para mim. Quando abri a pasta havia uma ficha sobre mim, com nome, idade, sexo, endereço, peso, altura, praticamente tudo sobre mim. Tinha até a data do meu primeiro beijo e o nome da garota.
- Eu não entendo, o que é isso tudo?
- Vire a página. – respondeu Michael.
Na página seguinte havia um perfil psicológico traçado sobre mim.
- John, como todos, você deve ter conhecimento que o Ilustríssimo diretor desta escola, Dr. Howard Stone, é um psicólogo renomado. Bom, há alguns anos, ele conseguiu descobrir uma maneira de apagar a memória das pessoas sem usar nenhum equipamento especial, através da hipnose. Claro que ele nunca tornou este conhecimento público. Desde então, ele vem usando isso para fazer testes em cobaias humanas, apagando a memória delas depois. Esses testes são ilegais, e muitas vezes cruéis e dolorosos. Ele não escolhe estas cobaias ao acaso. Traça o perfil dos potenciais “pacientes” e escolhe apenas os mais propensos a “colaborarem” para o processo. Você, John, é uma das cobaias.
- Isso não pode ser verdade. - eu disse, incrédulo.
- Não só você, John. Sua amiga, Anna Watts e seu amigo, Alexander Wyvern também. Vire a página. Mas entenda que essa próxima página pode perturbar você mais ainda.
Quando virei a página, havia uma série de fotos de testes e cirurgias sendo realizadas em mim. Cada uma das cicatrizes que me diziam que eu tinha adquirido quando era criança, em jogos e outras coisas, estava sendo feita na minha frente, naquelas fotos. Eu podia sentir a dor que deveria estar sentindo no momento em que aquelas fotos foram tiradas, como se as cicatrizes estivessem sendo feitas naquele exato momento. De repente, as lembranças começaram a voltar, e a cada foto que eu via, recordava daquele momento, a dor, a angústia, a vontade de que ele me matasse logo para que eu parasse de sofrer. A cada foto que passava, uma nova dor ia surgindo no meu corpo, parecia que as cicatrizes estavam se abrindo, parecia que eu estava vivenciando cada foto daquela naquele momento, e que aquilo iria durar para sempre. Então, percebi que eu tinha uma saída. Levei a arma até a minha cabeça e puxei o gatilho.
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Calma, jovens padawans, esta não é a última parte. Você poderá acompanhar o final desta história próxima semana, neste mesmo bat-horário e neste mesmo bat-blog.
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk aih eh foda!!!!! ele vai regenerar e descobrir que eh um x-men =P
ResponderExcluirE eu aqui pensando que ele estava "sonhando"... hauahsuahs' =p Essa história me fez lembrar de coisas da atmosfera científica do filme "A Ilha" e também de algumas coisas de "Elfen Lied" (o mangá que é mais detalhado).
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