quarta-feira, 30 de junho de 2010

Canção do lixo

Seeeeeeeenta que lá vem a história...

29/04/2003
Eu tinha 16 anos. Estava cursando o primeiro ano do ensino médio no CEFET-SE, aquele centro de formação de criminosos.
A professora de português/literatura passou um trabalho, onde deveríamos pegar um poema e adaptá-lo à nossa realidade.
Bom, aqui em Aracaju tem um conjunto chamado Padre Pedro, também conhecido como Terra Dura (Hardlands, para os íntimos), que é bastante conhecido por um lixão que tem lá.
É... vocês sabem como minha mente trabalha. (6)

Canção do Lixo

Minha terra é dura.
Onde lixo vamos catar;
Os urubus que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais fumaça,
Nossas várzeas têm mais flores (mortas),
Nossos bosques, que bosques?
Nossa vida mais horrores.

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu cá;
Minha terra é dura,
Onde lixo vamos catar.

Minha terra tem fedores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar -sozinho, à noite-
Mais prazer encontro eu cá;
Minha terra é dura,
Onde lixo vamos catar.

Não permita, Deus, que eu morra,
Sem que eu possa ajudar;
Os catadores que lá vivem
Para que prazer possamos encontrar lá;
Minha terra é dura,
Onde lixo vamos catar.

domingo, 27 de junho de 2010

Ler ou não ler, eis a questão

Brasileiro tem preguiça de ler. Isso é fato.

Muita gente fala que não lê porque não tem tempo. Pura ladainha. Não lê porque tem preguiça mesmo. Até eu, que gosto pra caramba de ler, às vezes tenho preguiça. Pra vocês terem uma idéia, comprei O Iluminado tem umas 2 semanas e até agora só li 2 capítulos. A história tá foda, não é cansativo, tem tudo pra ser aquele livro que a gente devora em 2 dias ou menos. Mas, esses dias, eu tô com uma preguiça absurda de parar para ler.

Quem não gosta de ler e admite, tudo bem. Mas não gostar/tem preguiça e ficar dizendo que é falta de tempo, pera lá, né?

Aí eu recebo um e-mail no trabalho dizendo que eu estou "altorizado" a fazer a "auteração" na data da viagem do secretário de não sei o quê.

Essa pessoa tem tempo pra ler? Provavelmente tem. Mas o gasta indo pra Aviões Elétrico, Pré-Caju, Forró do Caralho a Quatro, para algum posto de gasolina procurar alguém pra ir pro motel, etc. E depois quer dizer que não tem tempo.

E o pior de tudo é que a própria cultura brasileira incentiva isso. Vocês já viram alguma propaganda de livro na tv? Eu não. Tudo bem que quase não assisto tv, mas quando assisto, passam milhares de propagandas de cd e dvd de Maria Cecília e Rodolfo, Luan Santana, Bonde do Forró, e essas vuvuzelas que algumas pessoas insistem em chamar de música.

Achando que não era o bastante, as escolas começaram a incentivar as pessoas a parar de comprar e ler livros. Essa semana vi um outdoor de um determinado colégio que dizia "Nestas férias, não deixe de ler. Alugue filme legendado".

MEU PAU DE ASA!

Se, nessas férias, você não quer deixar de ler, COMPRE UM LIVRO! Peça emprestado a algum amigo, vá na biblioteca da escola, baixe na internet, o que for. Mas alugar um filme legendado para dizer que leu alguma coisa nas férias é demais. Ano que vem vão lançar a campanha "Nestas férias, não deixe de ler. Leia este outdoor todo dia".

Porra, é revoltante. Não tô falando como alguém que escreve e pretende viver disto, tô falando como uma pessoa qualquer. É por isso que às vezes me acho velho por gostar de ler, jogar xadrez, etc. Essa juventude tá perdida.

Mas também, com um analfabeto como presidente, o que mais podia se esperar?

quarta-feira, 16 de junho de 2010

"Ensaio sobre a cegueira"

Hoje fui no oftalmologista ver se estava ficando cego (juro que o trocadilho não foi intencional).

Para situar vocês, há uns 3 dias venho sentindo uma ardência nos olhos, junto com uma coceira. Tava incomodando muito e eu não conseguia fazer as coisas direito. Então marquei uma consulta pra ver o que tinha de errado.

Saí do trabalho mais cedo, cheguei lá em cima da hora, a leitora de impressão digital se recusou a me reconhecer, como sempre, mas, por fim, consegui ser atendido. Depois de muito remexer nos meus olhos, a médica mandou dilatar minhas pupilas. A enfermeira veio e aplicou o colírio, e em 10 minutos eu não enxergava mais nada.

Cegueira.

Tá, eu não estava completamente cego, mas estava enxergando MUITO mal. Tudo extremamente turvo. Então desisti de tentar enxergar e fechei os olhos.

Comecei a escutar as conversas ao meu redor.

O som da tv.

Os passos. Muitos deles.

De repente percebi que também sentia os cheiros.

Primeiro o cheiro do café na máquina perto de mim.

Depois o cheiro enjoativo do meu sapato (dica: nunca compre sapatos na Millenium calçados, o cheiro vai te assombrar pelo resto da sua vida)

Senti o vento gelado do ar-condicionado deslizar sobre minha pele.

Eu já havia esquecido do mundo ao meu redor, apesar de tudo que eu ouvia e sentia me lembrar dele.

Confuso isso.

Mas toda a confusão que eu sentia, todas as dúvidas simplesmente sumiram.

Eu consegui despertar um senso mais aguçado das coisas. Como se eu pudesse percebê-las em outro nível.

Nós estamos acostumados a VER tudo, mas raramente ouvimos ou sentimos. Até quando ouvimos uma música, nós visualizamos o artista tocando. Não somos nada sem nossa visão.

Mas, depois de perdê-la temporariamente, "vi" como meus outros sentidos também importam. Agora, estou prestando total atenção no som das teclas quando as pressiono, no som dos passos e da conversa da minha família, no som do ventilador, no som da minha respiração. Também estou sentindo o vento que vem dele e no cheiro da comida lá embaixo. Estou até prestando atenção no som da minha mão deslizando pelos meus cabelos quando os ajeito ou das minhas unhas coçando a barba.

É incrível como essas coisas passam despercebidas. É como respirar, você nunca lembra até alguém falar sobre. Numa escala maior, é como a vida. Quando você se dá conta, já está com 80 anos, sentado numa poltrona, mudando o canal da tv e imaginando quanto tempo vai demorar até que a morte tome vergonha na cara e venha te buscar.

Se você deixar as coisas passarem despercebidas na sua frente, você não está vivendo, está simplesmente vivo. Se você só vê as coisas, mas não as percebe completamente, você está no automático.

E eu devo reconhecer, até hoje vivia no automático. Mas graças a duas gotas de colírio em cada olho, percebi as coisas de uma maneira mais profunda.

Depois de vinte e três anos, consegui me sentir menos distante das coisas.

Obrigado, Mydriacyl.

Muito obrigado.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Mentiras verdadeiras

Não sei porque as pessoas fazem tanto estardalhaço por causa de mentiras.

Antes de mais nada, é melhor deixar claro que eu não acho que mentira seja uma coisa linda, só não acho que seja algo tão horrível assim. Afinal é uma característica inerente do ser humano.

Quando você corta o cabelo e pergunta para alguém se ficou bom, você espera que a pessoa responda a verdade, mesmo que seja uma verdade ruim. Mas e se ela mentir para não te magoar? Isso é algo tão ruim assim? Vamos esquecer a mentira em sim por um minuto e analisar o motivo: a pessoa mentiu porque se importa com você. Isso não conta para nada?

As pessoas mentem para se proteger também. E tentar se proteger é algo tão natural quanto respirar. Isso não mostra que você é uma pessoa horrível, mostra apenas que você é, de fato, uma pessoa. Por que isso é tão condenável?

Todo mundo já mentiu uma vez na vida. Eu menti, você mentiu, Richard Nixon mentiu e Pinocchio, coitado, não vou nem começar a falar sobre ele. Não importa o porquê, todos nós já mentimos. Então por que condenamos tanto os outros quando eles mentem?

Não estou dizendo que todo mundo devia começar a mentir aleatoriamente, só acho que as pessoas podiam tentar refletir mais antes de começar a condenar alguém por ter mentido. Esqueça um pouco a mentira em si e olhe o motivo. Talvez você fizesse o mesmo se estivesse no lugar da outra pessoa. Mentiras podem ser evitadas, mas existem situações em que elas são necessárias. Isso é inevitável. E aceitar o inevitável é algo completamente... bem... aceitável. E aceitar o fato de que as pessoas mentem pode levar a um auto-conhecimento maior. Você passa a conhecer mais seus limites, o que você seria capaz de fazer em certas situações e também o que outras pessoas seriam capazes de fazer nas mesmas situações. E isso nada mais é do que saber conviver consigo mesmo e com os outros.

I lie.
You lie.
He lies.

Everybody lies.

Sempre achei o House um cara sábio.