- Pai, por que tá todo mundo chorando?
- Porque o vovô se foi, filho.
- Mas ele não vai voltar?
Jacob tinha apenas 4 anos, ele não entendia o que era morte. Ter que explicar isso para seu filho era um sacrifício para Tom.
- Senta aqui, campeão.
Ele se sentou no colo do pai, com o olhar mais inocente e interessado do mundo.
- Lembra quando o papai explicou pra você como você tinha nascido?
- Lembro.
- Então, as pessoas nascem, ou "vêm" para o mundo, mas elas também morrem, ou "vão embora". Só que esse "ir embora" é para sempre.
- Então o vovô não vai voltar?
- Não, Jake. Dessa vez o vovô não volta.
Jake olhou para as próprias mãos, que estavam repousadas em cima de suas coxas. Um olhar profundamente triste toma conta de seu rosto, e Tom sentiu um nó na garganta.
- Mas eu gostava tanto dele, papai.
- Eu sei, Jake. Todos nós gostávamos. E ainda gostamos, não é? Não é só por que ele se foi que vamos deixar de gostar dele.
- É... acho que sim. Mas para onde ele foi?
- Ele foi pra perto do papai do Céu, filho.
- Ah... mas e se os médicos trouxerem ele de volta?
- Os médicos já fizeram tudo que podiam, Jake. Infelizmente, não há mais nada.
Jake simplesmente abaixou a cabeça e voltou a observar suas mãos.
- E se eu tentasse, papai?
Tom sentiu que ia desabar. Era difícil demais fazer isso. Ele tinha forças para suportar a dor de peder um pai, mas não de ver seu filho passar por isso. Ele abraçou Jake e começou a chorar.
- Pai, o que foi? Me desculpa, não queria fazer o senhor chorar.
- Jake...
Quando se acalmou, ele tentou explicar que não havia mais nada que eles pudessem fazer.
- Filho, o vovô já foi. Eu também queria muito que ele voltasse, mas não vai ser possível.
- Já sei!
Jake se levantou e saiu correndo. Vinte segundos depois ele voltou correndo com o celular do pai nas mãos, sorridente.
- Vamos ligar pra ele, papai! Se eu falar com ele, sei que ele vai querer voltar.
Foi a gota d'água. Tom abraçou Jake com força e voltou a chorar. Por mais que o garoto não entendesse o que estava acontecendo, ele sabia que Jake era quem mais estava sofrendo aquela perda. Depois de algum tempo, ele se recompôs e tentou explicar novamente para Jake o que havia acontecido.
- Filho, onde o vovô está não tem telefone. Não existe nenhuma maneira para falarmos com ele, porque para o lugar onde ele foi, não tem volta.
- É muito longe?
- É o lugar mais longe que existe.
- Então ele foi pro Japão?
- Não, Jake. É mais longe que o Japão.
- Ele tá na lua?
- Também não. É mais longe que qualquer lugar que você possa imaginar.
- Então se ele não vai voltar, eu não vou ganhar presente, certo?
- Certo.
- Poxa... mas eu nem queria presente, só queria que ele voltasse. Só isso já seria o melhor presente do mundo.
Isso era doloroso demais para Tom. Ele precisava acabar com isso.
- Jake, quer se despedir dele?
- Ele tá aqui?
- Mais ou menos. O corpo dele está aqui, mas está dormindo e não vai acordar. Porque a mente dele foi para aquele lugar mais longe que existe, entende?
- Acho que sim... Mas onde ele tá?
- Logo ali, vamos.
Tom segurou na pequena mão de Jake e o conduziu ao caixão. Por mais mórbidos que caixões sejam, ele não podia deixar de reparar na beleza que aquele tinha. Era uma peça muito bem trabalhada em madeira reluzente, com alças adornadas em ouro e as inscrições "Thomas Cross, marido, pai e avô amado. Que proteja sua família e os receba com alegria." na tampa.
- Pai, o que é aquela coisa de madeira?
- Aquilo é um caixão, Jake. É ali que o vovô está.
- Por que?
- Porque é onde as pessoas que estão do mesmo jeito que o vovô ficam. Depois fecham o caixão e colocam naquele buraco no chão.
Explicar essas coisas fez Tom perceber que nunca mais veria o seu pai, que agora tudo que possuía sobre ele eram lembranças.
- Por que?
- Para que ele possa dormir para sempre, já que ele não vai acordar.
- Mas já tentaram jogar água nele?
- Já, filho.
- E dar tapas na cara dele?
- Já.
- Gritaram no ouvido dele?
- Gritaram.
Eles seguiram até o caixão em silêncio. Quando chegaram lá, Tom colocou Jake no colo, para que ele pudesse ver dentro do caixão.
- Oi, vovô.
- Jake, ele não vai...
- Eu sei, papai, ele está dormindo. Mas eu queria dizer oi para ele antes que colocassem ele naquele buraco.
- Pela última vez?
- É.
- Então não quer aproveitar e falar algo pra ele?
- Quero.
- Você quer que eu saia?
- Não, papai. Pode ficar aqui comigo?
- Claro, filho. Não vou te deixar.
Jake deslizou sua pequena mão para dentro da mão do pai e a apertou com força. Ficou calado por um tempo, apenas olhando para o rosto do avô. Tom começou a lembrar de todos os momentos em que viu os dois juntos. Eles estavam sempre sorrindo, brincando, se divertindo. Eles eram felizes juntos.
- Vovô, não sei porque você decidiu ir embora. Eu gostava muito do senhor, você era o melhor avô do mundo. Eu vou sentir falta de todas as vezes que brincamos de bola juntos, que você corria atrás de mim pela casa, tentando me fazer cócegas, de como você nunca me comprava presentes caros, mas que eram os melhores mesmo assim, de como você me protegia sempre que eu tinha medo de algo. Eu sei que o papai pode me proteger, mas vou sentir falta mesmo assim. Se você decidiu ir embora por algo que eu fiz, me desculpe, eu não quis te magoar. Queria muito que você voltasse, vovô, mas o papai me disse que isso é impossível.
Tom estava envolto em lembranças de Jake e Thomas juntos, mas foi tirado dos seus devaneios pelo silêncio. Todos haviam se calado para prestar atenção no que Jake dizia. Jake estava chorando e sua voz tremia.
- Se você decidir voltar, eu vou ficar muito feliz, vovô. Mas se você não voltar, quero que saiba que eu nunca vou esquecer de você e que vou amar o senhor para sempre.
Tom, e todos os presentes no funeral, estavam chorando.
- Eu te amo, vovô.
Jake colocou a mão no seu bolso e retirou algo que Tom não reconheceu a princípio, mas depois de algum esforço lembrou do aniversário de 1 ano do filho, quando Thomas o presenteou com o primeiro carrinho que ele havia construído quando era criança. Aquele carrinho foi o primeiro de uma coleção de mais de cem carrinhos que Thomas construiu ao longo dos anos. Era o mais valioso de todos. Jake o depositou sobre o peito do avô.
- Pai, pode colocar as mâos dele em cima do carrinho?
Jake lutava para não chorar mais.
- Claro, filho.
Ele fez o que o filho havia pedido.
- Quer falar mais alguma coisa?
- Não... posso só dar um beijo nele?
- Claro.
Tom segurou Jake para que ele pudesse beijar o avô dentro do caixão.
- Tchau, vovô.
- Tchau, pai. Vou sentir muito sua falta.
Quando Tom virou para se retirar, percebeu que todos os presentes haviam formado uma fila atrás dele.
- Tom, eu sinto muito. Jake, vai ficar tudo bem. - disse Ed, o primeiro da fila um velho amigo de Thomas.
Jake não respondeu, apenas olhava para baixo. Ed deu um beijo na testa do garoto e se retirou com lágrimas nos olhos. O processo se repetiu até que todos os presentes haviam cumprimentado Tom e Jake. Eles ficaram em silêncio durante um tempo, lembrando dos seus momentos com Thomas. Alguns minutos depois o padre iniciou a cerimônia, e então todos puderam finalmente se despedir do velho e querido Thomas.
Quando a cerimônia havia terminado, Tom e Jake caminhavam para o carro de mãos dadas e Tom percebeu que Jake apertava sua mão com força.
- Tudo bem, filho?
Jake afirmou com a cabeça, mas visivelmente se segurava para não chorar.
- Você quer chorar?
Então Jake abraçou o pai com força e começou a chorar. Um choro sincero de dor e saudade. Tom não conseguiu segurar, abraçou Jake e também derramou algumas lágrimas.
- Eu vou sentir muita falta dele, papai, eu o amava muito.
Jake estava chorando como nunca havia chorado na vida.
- Eu sei, filho, eu também. Mas nós precisamos continuar nossas vidas. Teremos sempre lembranças boas do vovô conosco, mas precisamos seguir em frente.
- E como faremos isso?
- Sendo fortes, filho. Por mim, por você, e pelo vovô. Seja forte.
Ótimos textos como sempre...ainda terei o meu blog =p
ResponderExcluirMuito bem escrito! Vai longe garoto...
ResponderExcluirMas comentanto sobre o texto: Mô fiu, esse nao é um texto pra se ler em véspera de feriado! Chorei por sua causa seu viado! ashaushauhsua Lembrei de monte de coisa e lagrimas tomaram conta de meu rosto ! Vixe, como fui poetico agora! Despedidas sao sempre dolorosas, quanto mais esse tipo de despedida!
Emocionante!
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